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domingo, 27 de setembro de 2020

Um santo que morou por aqui - Parte III

Ainda sobre o Cônego Luiz Gonzaga do Monte, sacerdote católico, que residiu no Seridó na adolescência da vida, um dos maiores em sabedoria e santidade que já pisou no solo potiguar, muito ainda se tem a dizer.

Dedicado ao trabalho e aos estudos, dormindo pouco e nem sempre se alimentando como deveria, Monte se tornou um alvo fácil para qualquer doença e ela chegou com a gravidade da época. No dia 26 de janeiro de 1944, Cônego Monte foi internado no Sanatório “Getúlio Vargas” com febre elevada e pulmões afetados. Apesar da estreita ligação com a família, especialmente, com a mãe, ele preferiu não se despedir. Atendendo à recomendação médica, foi para o internamento e por lá, além da disciplina exemplar, conquistou a todos pelos gestos de simplicidade e fé.

Antes da internação, já sentindo os sinais da enfermidade que resultou em uma tuberculose, Cônego Monte, segundo o biógrafo Jorge O’Grady, se deixou fotografar, fato raríssimo em sua vida, fez uma última conferência, um retiro espiritual e, de bonde, visitou diversos bairros de Natal... “Tais foram os presságios que lhe anunciavam clara, mas docemente, a aproximação da morte.”

E a consumação, de fato, ocorreu no dia 28 de fevereiro de 1944. Como disse o médico Milton Ribeiro Dantas à época: “a consternação foi indescritível”. Acrescentou o Padre Luiz Teixeira, outro a escrever sobre Cônego Monte: “exalado o último suspiro, alguém lhe cruzou mãos sobre o peito e se dirigiu chorando ao telefone. Instantes após, todos os sinos da capital dobravam a finados, traduzindo assim o profundo pesar da Igreja e da Pátria que ele tanto estremecera”.

Vindo do sanatório, o corpo foi velado, inicialmente, na casa da família. No dia seguinte, feita a encomendação conforme a tradição católica, uma imensa multidão conduziu o corpo ao campo santo do Alecrim. Aliás, por muitos anos o seu túmulo foi um dos mais visitados e os que o conheceram ou acerca dele ouviram falar atestam a marca visível da santidade em sua vida. Dentre outros, José Adelino Dantas, Walfredo Gurgel, Paulo Herôncio foram sacerdotes católicos, seridoenses, contemporâneos e admiradores da elevada sabedoria do Cônego Monte. Dom Heitor de Araújo Sales, ainda seminarista, dele tem recordações e a ele se refere com devotado respeito.

Seus últimos momentos, inclusive, também são dignos de evidente registro... Sabendo que a gravidade se acentuara, considerando sua rica cultura sobre temas gerais, inclusive, sobre a medicina, Cônego Monte comentou com seu irmão Nivaldo, sacerdote católico, posteriormente Arcebispo de Natal: “a coisa agora é séria”. E pediu uma vela para as mãos. Não é nenhuma cerimônia prescrita pelo manual romano, mas a vela, de fato, é um costume antigo e ele não se afastou desta piedade. “Conquanto tenha pedido a vela, não foi para a chama simbólica o seu último olhar. Ao lado havia uma janela aberta, declarou uma testemunha. Virou a cabeça para ela e morreu olhando para o céu”, narrou Luiz Teixeira

Cônego Monte, tendo sido seridoense por adoção e estima, depois de, apenas, 39 anos de vida terrena, partiu - com ares de santidade - para o horizonte que a fé nos faz enxergar.


Fernando Antonio Bezerra é escritor, advogado e colaborador do Bar de Ferreirinha.

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