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domingo, 10 de setembro de 2023

Manual do Muambeiro Mirim - Parte 1


MUAMBEIRO MIRIM: SENTIDO!
MARCHANDO! E CONTRABANDEANDO!

Prezado muambeiro mirim de quatro estrelas: esse manual é pra você que não aguenta mais ver tanto civil – e só civil! – cruzando as nossas fronteiras com muamba. 

Esse manual é pra você cujo vovô lutou pela soberania da muamba nacional na Guerra do Paraguai e cujo filhote luta novamente pela soberania da nossa muamba, agora na Guerra de Miami. 

Esse manual é feito pra você que sabe pintar meio-fio e dar tiro de metralhadora, mas ainda não dominou a arte de apagar sua caixa de e-mail sem deixar rastro. 

Não baixe a guarda, muambeiro mirim: 2023 é o novo 1964, você só precisa de um manual de instruções. 

Um, dois, feijão com arroz! 

Três, quatro, dólar no extrato!


COMO APAGAR A LIXEIRA DA 

SUA CAIXA DE E-MAIL

muambeiro mirim, aprenda com os muambeiros de 1964: muambeiro bom não deixa rastros. 

Mas você deve estar se perguntando como não deixar rastros na difícil tarefa de apagar sua caixa de correio eletrônico, o

chamado “e-mail”, não é mesmo?

Vamos voltar à Grécia Antiga. 

Era uma vez Hermes, deus do comércio, da riqueza, da sorte, e mensageiro dos deuses. 

Era ele quem recebia a missão de entregar as palavras dos senhores do Olimpo no menor tempo possível, assim como nossos “e-mails” de hoje! 

Pois você sabe o que Hermes, esse arquétipo do ajudante de ordens, também fazia? 

Se livrava de mensagens que pudessem incriminar judicialmente os deuses.


Outro exemplo? 

A boa e velha anistia! 

Os muambeiros do saudoso período militar, nossos founding fathers, conseguiram apagar 21 anos de crimes cometidos pelo Estado de qualquer tribunal do país. 

E aí, imbuído desse espírito cívico-militar, é só apagar os 17 mil e-mails da caixa de entrada, de saída, da pasta de spam e dos rascunhos. 

E o mais importante de todos, não se esquecer de apagar também os da lixeira.

E depois, se o exemplo de Hermes não for suficiente, mire-se no exemplo de Hefesto, o deus grego do fogo, dos metais e da metalurgia. Uma opção clássica, e muito divertida, é a de incinerar o computador nos fornos da CSN.

Ou enterrá-lo nos porões da ditadura. 

Sempre alerta!


COMO CRUZAR A ALFÂNDEGA 

COM JOIAS CONTRABANDEADAS

Ah, a Arábia! 

Terra dos sheiks, dos petrodólares, da casa de 25 cômodos do Neymar e, sobretudo, terra das joias! 

Sim, pois se tem algo que o muambeiro mirim precisa saber é que o eixo geográfico da muamba não se resume mais a China, Taiwan e Paraguai. 

É preciso estar sempre alerta aos movimentos da geopolítica internacional. 

Por isso, o Manual do Muambeiro Mirim ensina a você, jovem muambeiro, como se faz para visitar o Oriente Médio e voltar ao Brasil escamoteando um colar avaliado em 16,5 milhões de reais.

Em primeiro lugar, lembre-se que um bom muambeiro mirim deve ser antes de tudo um muambeiro educado: seria de mau tom negar um presente dado com tanto afeto por um sheik árabe. 

Em segundo lugar, lembre-se que o Estado até pode ter olhos para vigiar os comunistas, mas não tem pescoço.

Em outras palavras: Estado não usa colar, quem usa é primeira-dama. 

Ah, e nunca se esqueça de vestir seu uniforme de almirante na hora de cruzar a alfândega, para que nenhum funcionário da Receita tome por civil quem é nada mais, nada menos, que um honradíssimo Muambeiro de Mar e Guerra!

Leia a Parte 2 AQUI


Manual do Muambeiro Mirim - Parte 2

COMO USAR O AVIÃO PRESIDENCIAL PARA CONTRABANDEAR ROLEX PARA OS EUA

Você sabia da lenda de que Santos Dumont foi o inventor do relógio de pulso?

Pois é, caro muambeiro mirim, o pai da aviação precisava de um relógio que fosse prático para ver as horas durante seus voos.

Então pensou: por que não amarrar um relógio, que até então era apenas de bolso, no pulso? 

Pronto, um pequeno passo para o homem, um salto gigante para o contrabando internacional.

A ligação entre a aviação e o contrabando é umbilical. 

Você, como pequeno muambeiro, pode se deparar com a missão de ter que exportar infralegalmente um brilhoso presente dado ao Estado brasileiro (ou 39 quilos de cocaína, mas isso é para outro manual). 

Se isso ocorrer, pense como Dumont: amarre-o ao seu corpo. 

Ainda mais se o muambeiro mirim em questão for presidente da República.

Quando você entra na casa de um colega para tomar um suco é revistado?

Normalmente não. 

Pois é a mesma coisa com um presidente. 

Ninguém revista um chefe de Estado na entrada de um país amigo. 

Nós temos braços e pernas e podemos usá-los para mais do que mera locomoção. 

A ciência (urgh) nos diz que o antebraço de um ser humano adulto comporta, em média, até 6,3 relógios (4,7 se forem cravejados de diamantes), portanto, é possível contrabandear até 12,6 relógios e ainda alguns anéis e pulseiras sem ter que passar nada pela cruel alfândega. 

Então, da próxima vez que seu amigo árabe lhe oferecer um suco, ou um relógio avaliado em 300 mil reais, lembre-se: use a cabeça, os braços e as pernas!

COMO VENDER E RECOMPRAR 

O MESMO RELÓGIO

Você já ouviu falar em “pegada de carbono”? 

Esse é um conceito inventado por uma turma de malucos chamados “ambientalistas”.

Esses inimigos do progresso dizem que tudo que nós consumimos deixa para trás um rastro tóxico de poluição gerado pela queima de combustíveis fósseis.

Essas ideias abiloladas podem parecer inúteis, nocivas, ultrajantes, e até papo de maconheiro de DCE, mas também podem ser usadas a nosso favor. 

É aqui que apresentamos a ideia de “pegada de papel carbono”.

O papel carbono era um método muito usado para copiar documentos desde a época dos fenícios, passando pelo Império Romano, o Asteca, o Flamengo de 2009 e 2010, quando ali reinou Adriano, O Imperador, até desembarcar nos nossos dias presentes, a chamada Era de Ouro do Ouro. 

Em posse de uma cópia de um recibo, de um contrato ou de uma escritura qualquer, um legalista mal-intencionado pode provar que uma transação comercial foi feita e dar com a língua nos dentes se tornando um X-9 e um tremendo vacilão.

Esses documentos, portanto, podem se transformar em alimento do terrível monstro chamado Tribunal de Contas da União. 

Esse gigante sem rosto tem um apetite insaciável por provas e fareja cada pegada deixada em nosso caminho. 

É preciso, portanto, cobrir nossos rastros. 

Primeiramente, com a tesoura sem ponta, picote todo e qualquer documento que prove alguma ligação sua com a recompra de um relógio Rolex. 

Em seguida, com o líquido inflamável, queime esses registros. 

Depois adicione

dólares a gosto no envelope pardo. 

Com a cola branca cole as pontas e sele o envelope. 

O próximo passo é usar seu dedo indicador para ligar para o dono da loja que te revendeu o Rolex e oferecer-lhe o referido envelope como contrapartida ambiental para que ele não deixe nenhuma pegada de papel carbono. 

E pronto: assim você evita o derretimento da sua moral!

Para isso o sempre intrépido muambeiro mirim vai precisar de:

- 1 tesoura sem ponta

- 1 envelope de papel pardo

- 1 tubo de cola branca

- 3 litros de álcool, gasolina ou qualquer líquido inflamável

- 1 dedo indicador

- Uma quantia indiscriminada de dinheiro em espécie, preferencialmente de moeda estrangeira.

COMO FOTOGRAFAR UMA ESCULTURA 

ROUBADA SEM APARECER NA FOTO

Pequeno muambeiro, o caminho que vai lhe guiar até um futuro próspero, provavelmente como adido muambo-militar em algum canto do mundo, passa necessariamente por um preceito básico: sempre escute os mais velhos. 

É preciso respeitar a hierarquia e a sabedoria dos muambeiros experientes que estão nessa vida de contrabando desde a época do pau-brasil. 

Um dos ensinamentos de nossos anciãos diz assim: “O que os olhos não veem o Leão não prende.”

A visão é uma inimiga mortal do profissional da muamba. 

Uma inimiga astuta que se atualiza diariamente através de tecnologias sofisticadas como o raio X, o infravermelho, os drones e a câmera do telefone celular de generais que não entendem conceitos básicos de óptica.

Para estar um passo à frente do inimigo, o muambeiro mirim moderno deve ser o antinarciso, e fugir do próprio reflexo como o diabo foge da cruz, ou como Neymar pai foge de auditorias fiscais. 

Se em algum momento lhe for requisitado o serviço de fotógrafo de esculturas árabes com superfícies de vidro, fique esperto!

Lembre-se dos treinamentos de guerra, e cubra-se com a camuflagem que te torna invisível ao inimigo. 

Sim, porque afinal de contas, todo dia é dia de guerra contra a ameaça comunista. 

E toda escultura de ouro mal fotografada pode ser uma arma nas mãos de quem pretende destruir a salutar instituição dos muambeiros mirins. 

Leia a Parte 1 AQUI