Em 2021 o Brasil registrou 65.225 pessoas desaparecidas. Em média mais de 200 sumidos por dia. Pelas estatísticas, Minas Gerais teve 31,8 desaparecidos por 100 mil habitantes em 2021. O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com o maior número de ausentes per capita. São 67,2 por 100 mil habitantes. Mais do que o dobro. Os estudiosos devem saber quais as causas desta diferença assombrosa, entre mineiros e gaúchos. Segundo o Sistema Nacional de Localização e Identificação, 30.000 casos são de crianças e adolescentes até 17 anos. E a Seção de Descoberta de Paradeiros, diz que mais de 60% dos sumidos voltam para casa. Mas os dados são falhos porque muitas comunicações de desaparecimento, quando a pessoa volta, não são informados. Ante números tão grandes, parece que a dor dos familiares tende a eclipsar-se. É exatamente o contrário, porque números não interessam aos que estão em desespero.
É o medo e a tensão pelo desenlace, de pais e parentes do ausente. Sai o dia e entra a noite. Hora a hora. Esperando um telefonema. Uma notícia boa. Abre o dia. Vem a noite. E o silêncio ou a falta de novas informações, continua. E a esperança, cada vez mais longínqua, a medida que um desaparecimento é constatado, carrega consigo o trauma para sempre. Só substituído quando por uma conclusão feliz. Pela lei natural dos humanos, os filhos veem os pais se irem. É um tipo de sofrimento. Pior, muito pior, é o revés: os pais verem os filhos se irem. É uma tragédia. Que nenhum pai quer passar. Minha mãe viu quatro de seus cinco filhos falecerem. A última, ela já mais idosa, quebrou sua resistência. Resistência mantida pela religião: a Bíblia na cabeceira da cama e a fé inquebrantável em Deus e em uma nova vida. Sempre ajuda.
Promotor de Justiça aposentado
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