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domingo, 1 de novembro de 2009

O bar que virou livro

Capa do livro

O livro Bar de Ferreirinha 50 Anos - Desde 1959 conta a história do buteco mais charmoso de Caicó - com fatos, fotos e curiosidades - desde a fundação até o do cinquentenário, comemorado no dia 26 de julho de 2009.
É também um pouco da história da cidade contada por seus bêbados
O livro foi lançado em Caicó no dia 1º de novembro de 2009, data de encerramento da Festa do Rosário.
Abaixo, o texto de apresentação do livro Bar de Ferreirinha 50 Anos - Desde 1959:

Só se vende fiado a um grande amigo,
e um grande amigo não pode fiado

Roberto Fontes*

Todas as cidades têm características que lhe servem de referência cultural, gastronômica, paisagística, religiosa, cultural ou de lazer. Ou tudo isso junto. Exemplos? Imagine Natal sem Ponta Negra, Parelhas sem São Sebastião, Currais Novos sem Cristo Rei, Rio de Janeiro sem Fla-Flu, São Paulo sem o Ibirapuera, Timbaúba sem Batista, Acari sem Gargalheiras, Brasília sem o plano piloto, Porto Alegre sem chimarrão, Recife sem frevo, Salvador sem axé... Não existiriam!

Pense como seria estranho Caicó sem a carne de sol, sem a Festa de Sant’Ana, sem Magão, sem o Arco do Triunfo, sem a Rádio Rural, sem o Itans, sem a Praça da Liberdade, sem o mercado público e sem os seus bares e restaurantes. Deus nos livre e guarde, porque a história também se faz de homens e bares. Caicó teve e tem bares famosos, frequentados pelas famílias, boêmios, músicos, artistas em geral, empresários e políticos. A boa comida e a bebida gelada são do cardápio. O aconchego é cortesia.

A memória afetiva registra que o QG de Clóvis fez história nos anos 60, na Avenida Seridó, ao lado do mercado. Era no primeiro andar da loja de tecidos de Zé Lázaro. Pra chegar lá, o cliente enfrentava mais ou menos 50 batentes. Era o lugar preferido da elite caicoense para bater papo, petiscar, tomar uma gelada e arriscar uns trocados no pif-paf. O happy hour de Caicó era no QG, que fechou quando o proprietário Clóvis Pereira foi trabalhar na usina de algodão dos irmãos Torres, a convite de José.

Outro que entrou na história foi o Bar de Xexéu. Localizado na esquina do Mercado Público com a Avenida Coronel Martiniano, era muito freqüentado pela qualidade da carne de sol. Não se sabe o segredo, mas Xexéu conseguia dar o sabor da melhor gastronomia do Seridó a uma simples turina. Irreverente, ele instituiu a administração colegiada do seu bar: quando queria farrear, os clientes tomavam conta do estabelecimento, inclusive do apurado e das chaves. Xexéu nunca levou xexo.

Dos atuais, destaque para o Bar de Zeca Barrão (misto de bar e restaurante), o Bar do Cheira Vara, Bar do Pingo d’Água, os bares do Iate e do Pelicano em áreas do açude Itans, o Bar do Radioamador, o Bar de Neném e o Chalé, instalado em frente à Praça José Augusto. A cidade cultua também os chamados “pés-sujos”, bares itinerantes que funcionam somente à noite nos mais diversos bairros, com serviço de bebidas e petiscos de carne, frango, coração e queijo no espeto.

Remanescente do fim dos anos 50, o Bar de Ferreirinha segue firme fazendo história em Caicó. Foi fundado em julho de 1959, na Festa de Sant’Ana, por Vicente Ferreira de Morais, o Ferreirinha. Em 2009 completa 50 anos de atividades. É o bar mais antigo em funcionamento na cidade, fica na Rua Otávio Lamartine, centro, e é um espaço bacana para encontros e reencontros, especialmente em períodos festivos como o carnaval, a Semana Santa ou a Festa de Sant’Ana.

Oficialmente, chama-se Bar Salvador. Deve ser porque salvou os seus freqüentadores do tédio e da modorra típicas de uma pequena cidade do interior na metade do século passado, bem antes dos acontecimentos que mudaram o mundo a partir de 1968. Ferreirinha, caicoense honorário nascido em Jardim do Seridó, foi garçom do Bar de Cicinho antes de ser dono do seu próprio bar. Na inauguração teve como primeiro cliente José Anchieta Fernandes, comerciante e pequeno proprietário rural.

Zé hoje vai raramente ao Bar de Ferreirinha. Os clientes mais antigos e assíduos são Xexéu (o do bar), Benedito Santos e “Seu” Chico. Todos octogenários. A fauna de frequentadores é formada de boêmios, funcionários públicos, artistas, desempregados, autoridades, jornalistas, políticos em geral (ir ao Bar de Ferreirinha rende buchicho nas rádios e blogs), empresários e agricultores. Todos querem uma boa bebida, petiscos baratos e bater papo sem compromisso. Mulheres raramente aparecem.

O cardápio, famoso pela qualidade, inclui turina e contrafilé assados na brasa, espinhaço de porco torrado, caldos em geral, bife de fígado acebolado e pirão de costela de boi. Tem umbu e laranja pra cachaça, das mais varadas marcas. Aliás, por falar em cachaça, o Bar de Ferreirinha guarda um tesouro etílico: dezenas de garrafas de aguardente Pitu com tampa de cortiça e valor sentimental e pecuniário inestimável. Não adianta insistir que ele não vende. Nem abre uma pra degustação.

Além de ser o templo da boemia de Caicó, o Bar de Ferreirinha também abriga manifestações culturais populares, especialmente aos sábados, dia da feira livre. Lá se apresentam violeiros, emboladores de coco, sanfoneiros e pagodeiros. Vendedores de CDs e DVDs genéricos, pasteleiros e cambistas aparecem regularmente. Pregadores do apocalipse, místicos e “professores” de esoterismo e umbanda, passam lá raramente. É, sem dúvida, o espaço popular mais democrático de Caicó.

Ao longo dos 47 anos de labuta, Ferreirinha cativou os clientes com o seu temperamento cordial, o tira-gosto saboroso e a cerveja geladíssima. Criou três filhos. Desde 2006 o negócio é gerenciado por Ricardinho, primogênito e herdeiro da simpatia e cordialidade do pai. O lema do bar, estampado na entrada em painel acima da porta sanfonada de metal, constrange o fiadeiro. Está lá, com todas as letras: “Só se vende fiado a um grande amigo, e um grande amigo não pede fiado”. Simples assim.

Monsenhor Ausônio Tércio costumava dizer em suas aulas de história e nos aniversários da Rádio Rural – quase cinquentona – que no Brasil não há cidades, basílicas ou monumentos milenares como na Europa. Assim, deve comemorar ruidosamente cada aniversário de suas instituições, para reverenciá-las e preservá-las. Por isso, os amigos fizeram uma programação tão festiva e extraordinária pelos 50 anos do Bar de Ferreirinha – um ícone da boemia caicoense – completados no dia 26 de julho de 2009. Afinal, 50 anos é uma vida.

Viva o Bar de Ferreirinha!

Roberto Fontes é caicoense, jornalista e cliente do Bar de Ferreirinha.
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Capa do livro

Adquira o seu exemplar do livro Bar de Ferreirinha 50 Anos - Desde 1959 nos seguintes locais:


Caicó
- Bar de Ferreirinha, Rua Otávio Lamartine, 741, Centro, fone (84) 9924-7492

BR-226
- Churrascaria da Serra

Natal
- Sebo Vermelho, Av. Rio Branco, 705, Cidade Alta, fone (84) 9401-9008
- Cooperativa do Campus da UFRN
- Potylivros
- Terraço Petiscos e Grelhados (por trás da Costeira Veículos, Capim Macio), fone (84) 9422-6886
- Bar dos Doidos, Ponta Negra

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