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domingo, 13 de setembro de 2020

Um santo que morou por aqui - Parte I

Muitos não sabem, mas existe um movimento pedindo que o Cônego Luiz Gonzaga do Monte se torne beato e, adiante, santo da Igreja Católica Apostólica Romana. E, de fato, todos apontam que ele era um homem diferenciado em sabedoria e santidade.

Cônego Monte nasceu no território pernambucano, na cidade de Vitória de Santo Antão, no dia 3 de janeiro de 1905, filho de Pedro e Belarmina Monte, pais materialmente pobres, família honrada e de numerosa prole.

Em 1913, depois de um período na Paraíba, a família do Cônego Monte veio residir no Rio Grande do Norte, no lugarejo Recanto, Município de Currais Novos, segundo pesquisa do Cônego Jorge O’Grady de Paiva, um dos primeiros a escrever sobre o sábio sacerdote. O pai, Pedro Monte, instalou um barracão comercial no dito lugar que, de tão simples, sequer tinha ensino para os filhos em idade escolar. Conta o Cônego O’Grady que Luiz Monte trabalhava o dia todo com o pai e, sempre que possível, dedicava-se a estudar sozinho, lendo “livros de leitura ou de histórias, almanaques, periódicos”. Naquele tempo, como diz o biógrafo, “a casinha onde moram, o barracão onde trabalham, a capelinha onde rezam, eis todo o seu mundo”. Aliás, falando em reza, desde criança Luiz Monte já demonstrava pendor para o sacerdócio.

Em 1917 a família se transferiu para Natal, já tendo Luiz Monte a decisão de estudar para se tornar um sacerdote. No dia 15 de fevereiro de 1919 foi fundado o Seminário de São Pedro na Arquidiocese de Natal. A família de Luiz Monte não tinha recursos financeiros suficientes para mantê-lo na instituição. A mãe, Dona Belarmina, “tomou a seu cargo, então, a lavagem de roupa do Seminário de S. Pedro. Costurava, além disso, batinas para os seminaristas. Até à ordenação do filho ela lutara arduamente”. Em tudo, no Colégio Santo Antonio e no Seminário, Luiz Monte se destacou como um brilhante e aplicado aluno.

Aos 22 anos e alguns meses ele foi ordenado padre, precisamente no dia 18 de setembro de 1927, pelas mãos de Dom José Pereira Alves. Adiante, sobre Luiz Monte, o Bispo, já em terras cariocas para onde foi transferido, sintetizou as virtudes que mais o impressionavam no então jovem sacerdote: “a modéstia, a obediência, a piedade e a pureza”.

Padre ordenado, Luiz Monte foi o grande destaque de sua geração. Sábio, como diz Cônego O´Grady, “chegou a dominar toda a ciência de seu tempo”. Dominou teses de filosofia, teologia, mas, com profundidade, também andou pela matemática, física, biologia, química, geologia e psicologia, sem descuidar da história, literatura, direito, língua portuguesa e idiomas, sendo um dos maiores latinistas de seu tempo. 

Jurandyr Navarro, o maior estudioso sobre a vida do Cônego Monte, resume tudo: “foi professor, escritor, orador, polemista. Estudava em nove idiomas. Dominava a matemática e ciências afins. Sabia física, química, biologia. Conhecia a psiquiatria, psicologia, psicanálise. Versava o direito criminal, a literatura universal, a sexologia, mitologia e outros ramos do conhecimento humano”. É muito para um normal, mas razoável para um gênio. Caso presente do Cônego Monte.

No Seminário São Pedro, Monte chegou a ter um laboratório, com especial pesquisa sobre química e também acerca da mineralogia, sendo um precursor do estudo da scheelita e de pedras preciosas no Seridó que a gente ama. Mas, a conversa já vai comprida. Vamos continuar na próxima semana!


Fernando Antonio Bezerra é escritor, advogado e colaborador do Bar de Ferreirinha.

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