Existe um ditado: “fazendo tempestade em copo d’água”. Vezes sem conta, no dia a dia, aumentamos o valor da pouca coisa, sem poder voltar atrás no que ocorreu e nos desgastando por nada. Como no outro ditado que então não usamos: “não tem solução? Solucionado está!” Não precisamos acreditar nos signos do zodíaco, para saber que cada qual de nós, age de forma distinta a um mesmo impulso. Também que uns “digerem” mais facilmente que outros, algum revés momentâneo. Vejam como o que julgamos uma grande vicissitude se transforma em um nada, frente a um problema realmente grande. Estava em um hotel na orla de Rio Grande, quando minha mulher deu por falta de um brinco do par que ela mais usa. Tínhamos andado de bicicleta e eu voltei no trajeto sem nada encontrar. Malas prontas, descendo pelo elevador, chateada, ela falou: “É só um brinco!”
Já dirigindo, algumas sinaleiras adiante, em uma avenida larga, sem canteiro no meio, que cortava uma região de casas humildes, o trânsito parou. Aos poucos os carros puseram-se em lento movimento e quando cheguei ao ponto onde paravam, duas senhoras de meia idade atravessavam vagarosamente a rua, sem faixa de segurança. Pensei: que imprudência em lugar tão inadequado e cheio de carros. E uma ajudava a outra no lento atravessar. Então vi: a outra tinha uma prótese mecânica, do joelho para baixo. O valor do brinco se desvaneceu em nada. Nada de nada, conforme comentamos. E ao lado da pena, ao lado de saber que a cada ano será mais difícil a vida daquela senhora, que a prótese ajuda, mas não resolve, ficou a evidência do dia a dia de nossas vidas. Quando qualquer probleminha transformamos em dragão. Exatamente por não termos o problemão da mulher que atravessava a rua.
Promotor de Justiça aposentado
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