O bispo
Dom Nivaldo Monte (1918 - 2006) é largamente conhecido no Estado do Rio Grande do Norte. Ele foi o primeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju (1963 - 1966) e quando faleceu era Arcebispo Emérito de Natal.
Tinha uma compleição pequena e magra, foi um sacerdote virtuoso, culto, um excelente orador sacro e deixou uma biografia rica em bons adjetivos. O escritor potiguar, Diógenes da Cunha Lima, o retratou muito bem no livro biográfico “O Semeador de Alegria”.
Quando ele já tinha quase 80 anos, considerado então um sacerdote jubilado, aconteceu um fato que retratou muito bem todas as boas qualidades daquele sacerdote, inclusive o seu bom humor. Certa tarde, ele se dirigia para Emaús, no vizinho município de Parnamirim, onde há uma comunidade católica, quando, em plena BR-101, o seu velho Corcel preto (lembram-se dele?) esvaziou um pneu.
Ele, trajando aquele sério terno preto, e quente, de sacerdote, estacionou no acostamento, desceu e ficou olhando para o pneu vazio. Naquele momento ele deve ter se perguntado: “E agora? Como esse velho vai sair dessa”?
Mas, Deus não poderia jamais deixar um santo homem daquele sem a sua proteção divina. Eis que surgiu um humilde cidadão, pedalando uma velha bicicleta, e parou ao seu lado. Teria sido o Homem lá de cima que o mandou?
– Boa-tarde, senhor! O que aconteceu?
– Boa-tarde, meu irmão. Foi o pneu do meu carro que secou.
O Enviado do Senhor, vendo aquela frágil e idosa criatura e o seu grave problema, logo se prontificou:
– O senhor quer que eu troque o pneu?
– Se você fizer isto, eu ficarei muito agradecido.
Então, o Mensageiro Divino, desceu da bicicleta, abriu a mala do carro e tirou os apetrechos. Quando se agachou para instalar o macaco, com Dom Nivaldo ao seu lado, o Anjo Celeste notou que o seu protegido, dono de umas pernas finas, calçava reluzentes sapatos pretos com fivelas e meias de cor púrpura.
Curioso, parou o que fazia, levantou-se e desfechou:
– Mago veio! Ou você é bispo ou é veado!
– Eu sou bispo, meu filho – respondeu Dom Nivaldo Monte com aquela voz serena.
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha