Páginas

domingo, 6 de setembro de 2020

Sobre índios no Seridó. Anotações gerais (II)

   


Os índios que já estavam por aqui quando os portugueses chegaram sofreram muito diante da repressão do colonizador. Sofreram com a perda de vidas; com a mistura forçada de culturas e pelo – quase – anonimato na história. Como dito no artigo anterior, as fontes destas modestas anotações são as pesquisas de Olavo de Medeiros Filho, Valdeci dos Santos Júnior e Helder Alexandre Medeiros de Macedo que estão em livros publicados e também em trabalhos disponíveis na internet. Assim, com todo louvor devido a quem pesquisou, a minha tarefa é apenas suscitar o tema para que reflitamos sobre o assunto e, quem sabe, alguns se interessem mais e promovam novas pesquisas.
Um capítulo complexo e muito dolorido é a repressão contra os indígenas. Neste sentido, desde 1683 começaram a ser construídas casas-fortes em pontos estratégicos no interior do Rio Grande do Norte, dentre as quais: “Tamatanduba, Cunhaú, Goianinha, Mipibu, Guaraíbas, Potengi, Utinga, Cuó e São Miguel do Guarijú”. Conforme escreve o historiador Valdeci dos Santos Júnior: “foram várias expedições oficiais organizadas pela coroa portuguesa entre o período de 1687 a 1720 para combater os tapuias no Vale do Açu e nas Ribeiras do Piranhas e do Jaguaribe, envolvendo um número variável de paulistas, índios, negros e colonos brancos”.
Neste período, surge o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que, em resumo, inicia a fase mais cruel de repressão contra os indígenas. Em 1688 ele foi convocado para combater os tapuias, inicialmente, na ribeira do Rio Piranhas. Aliado ao Coronel Antonio de Albuquerque Câmara, dono de terras no Seridó, Domingo Jorge Velho registra em correspondência da época que, apenas em uma batalha, degolou “260 nativos”. Era um homem cruel, tido por “selvagem” por autoridades da época, inclusive, há uma declaração neste rumo feita pelo Bispo de Pernambuco, D. Frei Francisco de Lima (“este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado”). O professor Valdeci, neste mesmo sentido, tendo estudado o assunto com maior profundidade, arremata: “o combate aos tapuias por Domingos Jorge Velho acontece de forma sistemática e sem qualquer tipo de piedade”.
Os tapuias resistiram o quanto foi possível. Mas, tanto os pessoais interesses econômicos do bandeirante Domingos Jorge Velho, quanto os de outros que ele representava, foram persistentes. Uma das batalhas mais sangrentas ocorreu no chão do Seridó. Em agosto de 1689, na Serra da Rajada, divisa dos atuais Municípios de Acari e Carnaúba dos Dantas, foram assassinados em torno de 1500 índios e, aproximadamente, 300 foram aprisionados.
Um outro grave embate ocorreu no ano seguinte, em outubro de 1690. Olavo de Medeiros Filho indica que a batalha se deu novamente no palco já manchado de sangue da Serra da Rajada. Mas, alguns outros historiadores sustentam que o confronto ocorreu próximo a Serra do Acauã, local próximo à divisa atual dos Municípios de Acari e Currais Novos, “de onde trouxeram mil e tantos prisioneiros”. De todo modo, Domingos Jorge Velho, o sanguinário bandeirante, esteve presente nas duas mencionadas edições de repressão aos indígenas e em outras mais no período chamado “Guerra dos Bárbaros”. Aliás, o mencionado bandeirante, tempos depois, também esteve no massacre ao Quilombo dos Palmares.
Precisamos falar mais sobre os índios na história do Seridó, registrando, inclusive, o sofrimento dos sobreviventes, muitos dos quais que foram escravizados ou viveram em completo isolamento temendo novos conflitos com muitos colonizadores da época.

Fernando Antonio Bezerra é escritor, advogado e colaborador do Bar de Ferreirinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário