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domingo, 20 de setembro de 2020

Um santo que morou por aqui - Parte II

Continuando a prosa sobre o Cônego Luiz Gonzaga do Monte, sacerdote católico, como dito anteriormente, nascido no território pernambucano, na cidade de Vitória de Santo Antão, no dia 03 de janeiro de 1905, filho de Pedro e Belarmina Monte, ele foi um dos precursores da descoberta da scheelita e das pedras preciosas do Seridó que a gente ama.

Visitando Caicó, a convite do então Padre Walfredo Dantas Gurgel (02/12/1908 - 04/11/1971), Cônego Monte escreveu, em abril de 1942: “em novembro do ano passado, tive ocasião de caracterizar a scheelita em Caicó, onde estão explorando com ótimos resultados”. Ele, no laboratório improvisado que tinha no Seminário São Pedro em Natal, fazia os testes para aferir o tipo do minério que lhe era enviado constantemente de várias cidades do Rio Grande do Norte. Segundo o Cônego Jorge O’Grady, biógrafo de Monte, ele chegou a fazer “mais duas mil análises de minérios, qualitativas e quantitativas”.

Sobre as pedras preciosas, publicou um artigo no jornal “A Ordem”, no dia 16 de abril de 1943, alertando a provável existência de diamantes no Seridó. Esclarece que os “cristais de monazita, xerotina, rutilio, octaedrita, quartzo e turmalina que denunciam, pelo menos teoricamente, a existência nas lavras ou derrames seridoenses, da primeira das pedras preciosas”. Cônego Monte era um homem, de fato, muito além de seu tempo. Premiado pela genialidade, alertou o Rio Grande do Norte de sua época para a riqueza mineral do Seridó, provavelmente, sendo também um dos primeiros a falar sobre a turmalina, uma das pedras de altíssimo valor que, ainda hoje, é procurada pelas terras do Seridó, notadamente, em Parelhas e municípios vizinhos.

Cônego Monte gostava, igualmente, de astronomia, conhecendo as estrelas e astros, escrevendo sobre o tema e despertando a curiosidade de outras pessoas acerca do mesmo tema. Tenho notícias de correspondência que ele mantinha, por exemplo, com meu bisavô (acariense) Antonio Bezerra Fernandes sobre o mencionado assunto e outros de interesse da Igreja Católica, sendo o meu antepassado um devotado fiel e muito amigo do clero de sua época.

Sobre Cônego Monte e o Seridó, além de sua residência no Município de Currais Novos, a convivência com o clero seridoense foi muito próxima. Estamos rememorando uma época de poucos sacerdotes e, antes da década de 40, a vinculação da Região à Arquidiocese de Natal. O próprio Dom Heitor de Araújo Sales já comentou comigo que, sendo seminarista, ainda teve o privilégio de alcançá-lo em atuação, o que muito positivamente lhe impressionava.

Aliás, sobre atuação, o Cônego Monte, que pouco dormia, produziu inúmeros artigos, conferências, sermões e ainda teve tempo de publicar livros, mesmo falecendo muito jovem, como adiante veremos. Em resumo, ele escreveu para jornais e revistas dos mais variados e grande parte dos textos foram coletados por Jurandyr Navarro que publicou a “Antologia do Padre Monte” em 10 (dez) volumes. Escreveu três livros: Fundamentos Biológicos da Castidade, Livro das Revisões e o Compêndio de Biologia. O Livro das Revisões, sobre o espiritismo, não chegou a ser publicado e os originais, ao que se sabe, foram perdidos ou descartados pelo próprio autor.

Enfim, segundo Câmara Cascudo, citado em algumas pesquisas sobre o Cônego Monte, em arremate sobre a vasta cultura deste sacerdote: “o cônego Luís Gonzaga do Monte aprendeu sozinho a ser sábio. Foi a cultura mais ampla que possuímos”.

E a história não termina aqui... Até a próxima semana!


Fernando Antonio Bezerra é escritor, advogado e colaborador do Bar de Ferreirinha.

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