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terça-feira, 29 de junho de 2021

O Messias está nu

Gilmar Mendes: a degradação do Judiciário

             

Ivar Hartmann

Professor de história eu tinha um repertório de situações pelas quais passaram alguns dos grandes do Brasil. A de Dom Pedro II é notável. Um cortesão foi pedir emprego ao Imperador para um cidadão que ele conhecia. Este negou o pedido e o vassalo, surpreso, perguntou o porquê. Dom Pedro respondeu: Porque não gosto de sua fisionomia. Mas o que tem o emprego com a fisionomia? Retorquiu o pedinte. Resposta definitiva: Depois dos quarenta anos, todo homem é responsável pela fisionomia que tem. Seu indicado não é homem sério. Fantástica resposta. Carregamos no rosto o que somos: bons ou maus, sérios ou canalhas, honestos ou corruptos. Lembrei com a foto de Gilmar Mendes que rodou na internet esta semana pela sua facilidade em soltar bandidos e tentar incriminar juízes e promotores.

Dalmo Dallari, jurista brasileiro, professor e depois diretor da Faculdade de Direito da USP, figura intocável quanto a honra e brilhante quanto ao saber, escreveu em 2002 na Folha de SP, quando FHC forçou a votação rápida da indicação de Gilmar ao STF. O título: DEGRADAÇÃO DO JUDICIÁRIO. “Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional... Gilmar como advogado-geral da União, derrotado no Judiciário em outro caso, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem decisões judiciais...Gilmar pagou R$ 32.400 (R$160.000 atualizados pelo IGP-M) ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual o mesmo dr. Gilmar Mendes é um dos proprietários- para que seus subordinados lá fizessem cursos”. Inteligente Pedro II, irresponsável FHC, profético Dallari. O rosto diz tudo.  

Promotor de Justiça aposentado - ivar4hartmann@gmail.com

CPI da Covid vai bombar

 

terça-feira, 22 de junho de 2021

Cristiano Ronaldo e a Coca-Cola

            

Ivar Hartmann

Entre todos os esportes disputados na terra em nossa época, nenhum tem a relevância do futebol. No número de clubes participantes em todos continentes, nos milhões de jogadores profissionais ou amadores, nos bilhões de espectadores, facilitados pela televisão. Um dos mais ricos campeonatos do mundo é o da UEFA, onde a Europa coloca em campo seus jogadores mais importantes, vestindo as seleções de seus países de origem. As estrelas mundiais do futebol, que sejam europeus, saem de seus clubes para voltar aos seus países, em busca de um título que só perde para o de campeão do mundo. Neste início da UEFA 21, o fato mais comentado, muito mais que as partidas realizadas, ainda em fase de classificação, foi o comportamento da estrela portuguesa, Cristiano Ronaldo, que, ao sentar-se para uma entrevista televisionada para o mundo, pegou duas garrafas de Coca Cola que estavam à sua frente, a título de propaganda, e empurrou-as para longe da tela.

A seguir pegou uma garrafa de água mineral que estava também a sua frente, mostrou-a para as câmeras e falou: água! Este gesto e esta palavra, fizeram as ações da Coca Cola despencar imediatamente em um valor de quatro bilhões dólares. Duvido que alguém imaginasse que uma simples ação, mesmo que de um dos maiores futebolistas de todos os tempos, pudesse acarretar esse tipo de comportamento entre acionistas. Mais tarde Ronaldo deu uma declaração de que não permite que seu filho pequeno tome refrigerantes, então não poderia facilitar a propaganda deles. Quem sabe está ai um mundo novo para expulsar dos meios jornalísticos a propaganda de refrigerantes que tanto mal fazem as crianças. A exemplo da proibição do cigarro que tanto mal faz para os adultos.  

Promotor de Justiça aposentado - ivar4hartmann@gmail.com

terça-feira, 15 de junho de 2021

Vinte milhões de toneladas

           

Ivar Hartmann

O operário foi chamado por que a fábrica de calçados ia aumentar a pequena produção de 2020 face a nova demanda. A concessionária de veículos abriu vagas para mecânicos. A atacadista de produtos alimentícios recebeu pedido do gerente de vendas para aumentar os estoques devido aos pedidos dos pequenos armazéns. E assim vai. O aumento em um setor repica em inúmeros outros. Mais comida, mais roupas, mais calçados, mais móveis, mais eletrônicos. Mais gerentes, vendedores e técnicos para atender. No fundo a espetacular safra de soja de 2021 do Rio Grande do Sul, de 20 milhões de toneladas e do Brasil, 134 milhões de toneladas, menor apenas que a americana. Comparando: a safra mundial foi de 363 milhões de toneladas. O grão é ouro vegetal, fundamental para o mundo. Nossa principal cultura injetará um recorde de dinheiro na economia gaúcha. 

O valor bruto da produção (VBP) da soja, o que será recebido pelos produtores com a comercialização a preço de mercado, segundo o Ministério da Agricultura, será de mais de R$ 50 bilhões em 2021, acréscimo de 104,1% frente a 2020. No Brasil, o mesmo. Mato Grosso é o maior produtor seguido do RS e do Paraná. Mais importa é o dinheiro que a cultura fará rodar pelo país. Novos empregos garantidos, novas tecnologias de plantio e colheita, impostos arrecadados. O agronegócio foi o grande responsável pelo crescimento de 5,5% da economia do Estado no primeiro trimestre e o soja aumentou em mais 74% em relação ao ano anterior. A Aprosoja calcula que são 243 mil produtores que empregam 1,4 milhões de pessoas. Cerca de 70% da produção é exportada, representando 43,5% das exportações brasileiras e gerando mais de 30 bilhões de dólares de receita. O horizonte é o limite!  

Promotor de Justiça aposentado - ivar4hartmann@gmail.com

terça-feira, 1 de junho de 2021

O STF se desmoraliza. Eles ligam?

          

Ivar Hartmann

Um exército, qualquer exército, quando em combate que é a atividade para a qual foi criado, nunca abandona um seu soldado em perigo. Uma quadrilha de bandidos, qualquer quadrilha, quando em roubo para o qual foi criada, nunca abandona um sequaz em perigo. O STF, o brasileiro, quando em julgamento que é a atividade para a qual foi criado, nunca abandona um colega em perigo. O exército, a quadrilha, o STF tem portanto muitíssimos pontos em comum e resta saber para qual deles devemos mirar para avaliar em um a conduta do outro. Para facilitar ao leitor, vamos focar no Brasil. Nosso exército foi criado para proteger o território e os brasileiros genericamente. A quadrilha foi criada para atender especificamente os interesses de seus membros. O STF foi criado para julgar os casos dos brasileiros e, agora se vê, para atender os interesses de seus membros. O leitor pode ter ficado embaralhado, então vamos exemplificar.

Vejamos o Dias Toffoli, ministro do STF de larga fama e atividade partidária dentro do PT, assecla à época do José Dirceu, chefão petista condenado por corrupção. Toffoli já foi processado criminalmente. Já noticiaram sobre dinheiro grosso movimentado entre ele e a esposa advogada. Também que uma empreiteira reformou sua casa em Brasília. Agora uma delação premiada diz que recebeu dinheiro para vender duas sentenças. Que deveria fazer o STF para não se desmoralizar mais ainda, se isso é possível: ir atrás da verdade. Que fez o STF, com o voto inclusive do próprio investigado? Mandou arquivar a denúncia. Júlio César, na dúvida, divorciou-se da mulher. Brutus, na dúvida, matou Júlio César. Os Brutus do STF fizeram o mesmo. Estão longe de ser o exército dos brasileiros.  

Promotor de Justiça aposentado - ivar4hartmann@gmail.com