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segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

O carteiro sumiu

RichardsDrawings/Pixabay

Goya Bada

Meninos e meninas – e todas as variações – deste meu Brasil ora varonil ora brochado: não tá fácil! Que outro lugar deste mundinho de meu Deus passamos uma boa vergonha por dia, fora as dezenas de ruborizações nossas de cada dia?

Nem na hora do almoço esses jornalistas deixam a gente em paz, servindo molhos amargos como o rombo acumulado nas contas do governo federal até novembro: R$ 83,8 bilhões. Nesse balaio estão Correios, Casa da Moeda, Infraero, Serpro, Dataprev, Emgepron, Hemobras e EMGEA. Formam um pacote de lixo embalado como empresas estatais.

Segundo dados do Banco Central, esse grupo de ineficiência é um sumidouro de dinheiro público que apresentou rombo de R$ 6,73 bilhões em 2024 e R$ 6,35 bilhões em 2025. Petrobras, Eletrobras e bancos públicos não estão incluídos no cálculo desse ralo. Ou seja, o que é ruim não está livre de piorar.

O mais impressionante é que esses mamutes deficitários atuam em áreas altamente valorizadas no mercado mundial – tecnologia (Dataprev e Serpro), logística (Correios), infraestrutura aeroportuária (Infraero), impressos de segurança (Casa da Moeda), biotecnologia (Hemobrás), projetos navais (Emgepron), gerência de ativos (EMGEA) – e mesmo assim funcionam muito mais como cabides de emprego para apaniguados do Estado-patrão. Tanto que a maioria delas é simplesmente custeada pelo Tesouro e ponto final.

Embrulha o estômago pensar que, no governo FHC, as gigantes UPS, FedEx e Amazon manifestaram interesse em comprar os Correios, mas os espertos de sempre jamais arriscariam abrir mão de uma teta então muito fértil e melaram qualquer possibilidade de privatização – os rumores apontavam R$ 8 bilhões para abrir o leilão, e lá se vão 23 anos que o tucano deixou o poder.

Do posto de empresa-modelo mais admirada do país para o limbo atual foi uma ladeira de incompetência. A empresa tinha 51% de participação no mercado em 2019 e despencou para os 22% atuais. É claro que todo mundo faz uma pergunta básica: como é que diretoria, conselho e o próprio governo (acionista) não perceberam tamanho desastre?

E os sacripantas oficiais ainda têm a ousadia de tripudiar da nossa inteligência, afirmando que a bancarrota da empresa era inevitável desde que a sociedade se modernizou e deixou de enviar cartas com a popularização da comunicação digital. Como se o grosso da atividade da empresa não fosse a entrega de encomendas e mercadorias.

Bom lembrar que desde 2015 as empresas de correios do mundo entenderam que o nicho de correspondências estava desaparecendo e trataram de se reestruturar. Os alemães, muito bobinhos, resolveram a questão privatizando sua estatal e ponto final. Agora, surge a conversa de buscar parcerias ou abrir o capital. Ah, bom! Resta saber onde estão os incautos para entrar nessa roubada antes de qualquer reestruturação da empresa – embora a atividade tenha grande potencial econômico, os métodos “empresariais” do setor público dispensam apresentações.

Da sua trincheira no Palhaço do Planalto, Sassá Mutema foi aos alto-falantes para declarar apoio ao aporte de R$ 12 bilhões nos Correios e, peito estufado, afirmou que enquanto estiver desonrando a Presidência do Bordel Pau-Brasil, não haverá privatizações. Claro, o rebanho foi ao delírio já decorando a fala e ensaiando a claque para o ano da graça eleitoral que começa daqui a três dias. Como de costume, o fariseu de botequim esqueceu de lembrar algumas coisinhas que costumam dinamitar urnas eleitorais.

Como investidor não é dado a rasgar dinheiro, não existem interessados em comprar essa sucata desde a tentativa no (des)governo Bolsonaro. Nada menos que 15 mil funcionários (17% do quadro), que pelo visto já não fazem falta, deverão ser demitidos até 2027. Muitas agências serão fechadas e imóveis vendidos. Os R$ 12 bilhões aportados para “salvar” quem já está no inferno serão espetados nas costas daqueles otários de sempre, chamados “contribuintes”.

O empréstimo “saneador” foi assinado sexta-feira (26) com validade até 2040, garantido adicionalmente pela União. Ou seja, na falta de pagamento da estatal – algo bastante provável – e de liquidez das suas próprias garantias, o Tesouro [também conhecido por Viúva (nós)] abrirá pernas e cofres para manter os sorrisos dos credores da dinheirama: Banco do Brasil (R$ 3 bilhões), Bradesco (R$ 3 bilhões), CEF (R$ 3 bilhões), Itaú (R$ 1,5 bilhão) e Santander (R$ 1,5 bilhão).

Os mais céticos já entendem que BB e CEF vão terminar entubando suas (nossas) partes. Afinal, se daqui a 15 anos ainda houver ECT, o pessoal dos bancões estatais envolvidos no empréstimo provavelmente serão acometidos de amnésia do fiofó alheio. Até porque, segundo Emmanoel Rondon, presidente da encrenca, para complementar o descalabro, no próximo ano (que começa daqui a três dias) o ralo vai sugar mais R$ 8 bilhões com um novo empréstimo. Ou seja, por ora a continha vai fechar mesmo em R$ 20 bilhões. E ele afirma também que, se nada fosse feito, o rombo chegaria a R$ 23 bilhões em 2026.

Causou estranheza em Brasília a ausência das viúvas e bobos alegres da esquerda-caviar festiva para embarcar como avalistas nessa barca furada, já que defendem o Estado chafurdando na economia. Na verdade, esses militontos ficaram todos afônicos porque sabem que a friagem do sereno vai virar mais uma tempestade com dinheiro público.

E, last but not least, privatizada em junho/2022 a Eletrobrás encerrou o exercício de 2024 com lucro de R$ 10,4 bilhões, quase dobrando o resultado do ano anterior.

Goya Bada não é jornalista. É um doce.

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