Ciduca Barros
Aquele conterrâneo estava, literalmente, falido.
Suas dívidas (várias delas vencidas) estavam incontroláveis e insolúveis.
Ele já estava sem carro, sem casa, pagando pensão alimentícia e morando mal num hotel barato.
Sintetizando, como dizem lá na nossa terra: “ele estava mais quebrado do que arroz de terceira”.
Os amigos, conhecedores da sua triste situação econômica e financeira, diziam-lhe constantemente:
– Aderbal, a melhor e mais rápida saída para a sua “quebradeira” será você se casar com uma mulher que tenha dinheiro!
Era um conselho interesseiro e machista, mas realmente ali estava uma maneira dele neutralizar a sua insolvência.
Ele precisava “juntar os panos” com uma mulher que tivesse uma boa renda – poderia ser salário, pensão, negócio ou qualquer outro tipo de rendimento, desde que entrasse dinheiro no seu caixa. I
nfelizmente, só apareciam em sua vida comerciárias, desempregadas, pensionistas de salário mínimo e outras menos votadas.
Ele, apesar de ser quarentão, ainda era um grisalho charmoso.
E com um banho de loja (nada que o dinheiro não pudesse fazer) melhoraria ainda mais.
Eis que, certo dia, ele conheceu alguém.
Aquela mulher, sendo funcionária pública federal, ele logo deduziu, seria a solução para o seu sério problema de dinheiro.
– Essa é a mulher que irá consertar o meu bolso! – pensou.
Ela, apesar de também ser quarentona, também não era de se jogar fora.
– Não posso escolher muito! A mulher é essa mesma! – voltou a pensar.
Ele se mostrou interessado nela.
Ela, muito mais, também se mostrou interessada nele.
Marcaram um encontro para se conhecerem melhor.
E foi exatamente neste primeiro encontro que aconteceu a grande decepção.
Com apenas poucos minutos de conversação, ela expôs, na mesa de negociação, o seu real interesse:
– Amor! Você está chegando na minha vida na hora certa. Eu estou cheia de contas pra pagar. Tive que vender os móveis domésticos. Foi necessário vender o carro. Tive até que me mudar para um apartamento de aluguel mais barato.
Nesse momento, com ele boquiaberto, ela tirou da bolsa um papel com uma longa lista e, mostrando-lhe o conteúdo, mandou a bomba:
– Para repor os móveis, irei fazer um chá de casa nova! E o seu nome está indicado na lista de presentes como doador da Geladeira GE, Duplex.
– Puta que pariu! A mulher está mais fodida do que eu! – refletiu.
Em seguida, recuperando-se do choque, ele pegou a lista e, com uma caneta, riscou a palavra Geladeira GE, Duplex e escreveu: “uma colher de pau”.
E o amor jamais floresceu naqueles corações endividados.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha