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sábado, 6 de junho de 2020

Por decoro

ARTUR AZEVEDO
Quando me esperas, palpitando amores,
e os lábios grossos e úmidos me estendes,
e do teu corpo cálido desprendes
desconhecido olor de estranhas flores;
 quando, toda suspiros e fervores,
nesta prisão de músculos te prendes,
e aos meus beijos de sátiro te rendes,
furtando as rosas as purpúreas cores;
 os olhos teus, inexpressivamente,
entrefechados, languidos, tranquilos,
olham meu doce amor, de tal maneira,
 que, se olhassem assim, publicamente,
deveria, perdoa-me, cobri-los
uma discreta folha de parreira.

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