Ciduca Barros
Os sofridos e abandonados nordestinos sempre viram o Sudeste brasileiro como um eldorado.
Vivi toda a minha vida observando meus conterrâneos sertanejos num eterno vai e vem: vão para São e vêm de São Paulo.
Foi o caso de Mané Melancia, um homem casado, pai de 3 filhos que, se encontrando numa pindaíba, sozinho, mandou-se para São Paulo a fim de tentar a sorte e mandar dinheiro para a mulher manter os filhos.
Lá, arranjou um emprego qualquer e, cumprindo a promessa feita à família, mensalmente mandava uns trocados para Ritinha, sua esposa, ir criando os filhos.
Passados três anos, voltou a chover no sertão e a vida dos seus habitantes melhorou. Mané Melancia retornou.
É necessário dizer que Ritinha e os filhos ficaram alegres, o que foi natural, pois três anos de ausência não são três dias.
À noite, com os dois na cama, depois de beijos, abraços e outros atos mais íntimos, ou seja, depois dos “finalmentes”, Ritinha encarou o marido e indagou:
– Mané, tu nunca fez nada com outra muié lá não?
– Fiz não! – respondeu ele, na bucha.
– Que não, Mané! Tu não tá vendo que eu não acredito nessa história!
– Pois pode acreditar! Eu inté que, uma vez, fui pra cama com uma muié de lá, mas na hora de botar, eu sartei de riba dela!
Estimulado pela pergunta curiosa de Ritinha, Mané também quis saber se, na sua ausência, ele levou chifres, e indagou:
– E você, Ritinha?
– Eu o quê, hómi?
– Tu aqui sozinha, aguentasse tanto tempo sem macho?
Daí Ritinha trastejou. Pigarreou, limpou a garganta e disse:
– Você sabe, né.... Pra muié é mais difícil, né...
Naquele momento, o pobre de Mané Melancia começou a suar frio com tantas reticências:
– Pelo amor de Deus! O que aconteceu, Ritinha?
Aí, a mulher confessou:
– Você sabe que quem fica debaixo, as vez, não pode sartá fora!
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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