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domingo, 21 de junho de 2020

Teja preso, teja solto

Ciduca Barros

Vemos as notícias, veiculadas a todo instante, sobre pessoas presas sob suspeição de envolvimento com atos desonestos, metendo a mão nos cofres públicos. 
No dia seguinte, os mesmos meios de comunicação já divulgam que, os presos de ontem, munidos de alvarás de soltura concedidos pelo Ministro Fulano de Tal, soltador oficial de plantão, foram soltos hoje.
Teja preso! Teja solto!
Essa cantilena de “teja preso, teja solto” de todos os dias, fazem-me lembrar de uma história que o meu finado pai me contava. 
Em Caicó (RN), na década de 1950, havia um delegado que era oficial da Polícia Militar e o seu substituto era um mero sargento. 
Daí, quando o titular se afastava do cargo (licença-saúde, folgas, férias, etc.) a cidade, que naquela época era calma, ficava, ainda mais, na perfeita ordem. 
Por quê?
Porque o substituto do delegado, o sargento, só tinha poderes para prender – soltar, teria que ser com o titular.
Quando saía a notícia “O delegado viajou!”, até a frequência no cabaré da cidade reduzia.
Ser preso pelo substituto do delegado, mesmo que fosse por um delito leve, seria catastrófico. 
Quando seria solto? Só no retorno do delegado titular.
Então, vendo na tevê a notícia de mais uma soltura de alguém, preso recentemente por implicação em desvio de dinheiro público, parece que estou ouvindo o meu pai me dizer:
– Meu filho! Que saudade do Sargento Prendedor! Pelo menos, esse teria passado mais dias na cadeia!

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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