Ciduca Barros
Quando eu era jovem, e aí já vão alguns anos, comentei com um homem de idade avançada que eu temia a velhice.
Naquela ocasião, aquele senhor disse-me algo que eu nunca esqueci:
– Não tema, pois a natureza é muito sábia. Os anos vão decorrendo e você vai mudando seus gostos, prazeres e hábitos, adaptando-se, naturalmente, à passagem dos tempos.
Realmente, decorridos todos esses anos, cheguei à conclusão de que o referido cidadão, do alto da sua experiência, estava correto.
Quem é da minha geração sabe que, há alguns anos, nossos prazeres eram traduzidos por festas mundanas, bailes, bares, futebol e, por que não dizer, mulheres.
E hoje?
Nossas satisfações se traduzem no sucesso profissional de um filho, no casamento de uma filha, no nascimento de um neto.
Qual é a diferença entre essas duas fases da vida? Não sei dizer. Entretanto, sinto nas satisfações de hoje, o mesmo contentamento dos prazeres de ontem.
Infelizmente, os anos passam celeremente.
O homem, como tudo nesta vida, vai sendo exposto à ação devastadora do tempo. Geralmente, a deterioração começa pelos olhos - o sujeito é obrigado a usar óculos.
Na esteira disso, ou paralelamente, a barriga cresce, os cabelos embranquecem, dói aqui e dói ali. O tempo é inexorável e não perdoa ninguém.
Fiz esse longo e tedioso discurso para narrar uma história curta, mas tragicômica.
Há pouco tempo, encontrei-me, casualmente, com um conterrâneo, homem da minha geração e também já aposentado.
Sabedor de que ele, recentemente, havia se submetido a uma cirurgia para corrigir uma catarata, fui logo lhe perguntando sobre a operação:
– E aí, amigo, como foi a cirurgia?
– A operação e o resultado foram um sucesso, mas estou arrependido de tê-la feito – respondeu ele.
Aquela resposta me deixou surpreso e, também, curioso:
– Arrependido?
– Exatamente! Todas as manhãs, quando vou me barbear, me bate uma puta tristeza!
E concluiu:
– Porra, como eu estou velho!
A catarata não o deixava ver as rugas que marcaram o seu rosto com o passar do tempo.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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