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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Maratona e maratona

Ivar Hartmann

A Maratona anual do Porto, Portugal, acabou há pouco. Foi a primeira que vi do início ao fim. Milhares de atletas iniciaram a prova dos 42 quilômetros. Quatro horas depois, quando os primeiros já tinham há muito chegado, ainda se viam retardatários cansados, mais caminhando que correndo, tentando chegar ao fim para receber a medalha de participação. Afora os que ficaram pelo caminho. Para os humanos, a preparação física é fundamental. Há outra Maratona para a qual a preparação intelectual é fundamental. No correr da história, nela também saíram candidatos esperançosos, mas pouco a pouco alguns se distanciaram da grande massa. É a Maratona das Nações. Pelo celular leio todo o dia o jornal El Mundo de Madrid, na sua parte internacional. Notícias, vídeos, fotos, crônicas, me dão o apanhando do que realmente interessa no mundo. E grátis! Vale a pena o leitor procurar. Nos finais de semana eles tem uma área com as fotos mais marcantes dos sete dias anteriores. Nesta última, duas fotos chamaram a atenção. A primeira era de meninos chineses. Há não muito tempo, eram milhões de crianças ranhentas mostradas ao Ocidente como prova da decadência de uma cultura milenar. Agora estão desfilando no Festival da Moda de Pequim. para mostrar ao mundo as novas tendências da moda infantil e a produção barata que o parque industrial chinês permite.
Logo outra foto. Duas crianças embarradas participam de um desfile pelo Dia dos Mortos em Salvador, capital de El Salvador. País mais densamente povoado da América Central tem décadas de ditaduras militares de direita e guerrilhas de esquerda. Com um PIB de sete mil dólares está na renda médio-baixa mundial e 80% da população é de alfabetizados. Portanto não é o pior país do mundo. Mas a foto de uma festa popular em que crianças ainda se sujam para manter uma tradição é um hábito que não se coaduna com o esperado em um país em crescimento. Ditaduras e guerrilhas mostram que o país não tem uma classe dirigente intelectualmente preparada para governar. O que não quer dizer muito, porque no Brasil temos, mas eles são também muito preparados para nos lograr. Sabemos: dos bancos escolares saem os futuros dirigentes das nações. China, Alemanha, Estados Unidos. Em comum a preparação intelectual rigorosa de suas crianças e jovens. E a pregação da honestidade. Sem elas não há como chegar à meta na Maratona que importa.
ivar4hartmann@gmail.com

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