Páginas

domingo, 19 de novembro de 2017

O chorão

Ciduca Barros

Todos nós sabemos que o excesso de barulho pode afetar negativamente a nossa audição. 
Mas o que é barulho? 
Podemos definir barulho como um som indesejável. 
O barulho varia em sua composição, em termos de frequência, intensidade e duração. 
Porém, é muito difícil estabelecer que tipo de som é considerado barulho, pois o que pode ser desagradável para uns pode ser agradável para outros.  
Veja o caso da música. 
Uns sons musicais podem ser divertidos para alguns, mas outros já os consideram lesivos aos seus ouvidos. 
Portanto, para um som ser classificado como barulho, só deve ser classificado pelo próprio ouvinte. 
Mas existe um som que todos consideram realmente como barulho: o choro dos filhos dos outros. 
Vocês já tentaram dormir com um garoto, que não é o seu, chorando histericamente no cômodo vizinho? 
Meu pai, Manoel de Neném, foi caminhoneiro por mais de 40 longos anos. 
Logicamente, ele tinha muitas histórias acumuladas durante as viagens pelas infindáveis estradas do Brasil. 
Contava ele que, quando ainda havia aquelas úteis pensões de beira de estrada, certa noite, após um dia inteiro dirigindo um pesado caminhão, parou num hotel para pernoitar. 
Quem disse que, apesar de cansado, ele conseguiu dormir? 
No quarto ao lado, um garoto teve um desejo contrariado e passou a chorar, espernear e gritar sem parar, e sua mãe nada fazia. 
 O seu berreiro incomodava todos os demais hóspedes daquela pensão, com seus quartos paredes-meias.   
Já passava da meia-noite quando o menino, abruptamente, paralisou o ruidoso choro.  
Meu pai, que ainda não havia conseguido “pregar o olho” – como dizia a finada minha mãe -, como os demais, aliviado, num desabafo justo, comentou em voz alta: 
– Eu sabia que você parava, “fio duma égua”! 
E o menino, com a voz entrecortada de soluços, provando realmente que era um verdadeiro rebelde, respondeu: 
– Eu não parei, não! Tava só descansando! 
E voltou a berrar com a plenitude dos seus infantis, mas superpoderosos pulmões. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário