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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Diarreias mentais - LXVI


Oratórios e maus políticos

Atualmente não posso dizer, pois nunca mais andei pelas fazendas de nossa região, mas, antigamente, ninguém chegava nas casas de sítios seridoenses sem encontrar um antigo e belo oratório. 
Para os mais jovens que, possivelmente, não sabem o que é um oratório, dizemos que é um nicho com imagens religiosas. Cheio de santos, santas, anjos e fitinhas de todas as cores, o oratório é o retrato real da inquebrantável fé de nossa gente.  
Quantas orações contritas nossos oratórios do passado ouviram? Quantas vezes seus santos foram piamente venerados? Quantas mães, preocupadas com o futuro de seus filhos, não baixaram os seus joelhos no chão e fervorosamente pediram mais proteção para eles do que para si próprias? 
Quantos agradecimentos, por graças alcançadas, aquelas imagens não ouviram? Ao pé daqueles oratórios, quantos pedidos de bons invernos foram insistentemente rogados? Orações e rezas, terços e novenas, numa prova incontestável de que, das três verdades teologais, a fé é a que está mais arraigada em nosso fustigado povo sertanejo.  
A religiosidade de nossa gente do Seridó, mormente a mais antiga quando não havia "Banda Isto" e "Banda Aquilo", sempre foi muito forte. 
A crença religiosa do nosso povo é tamanha que, muitas vezes, ele não difere o castigo de Deus da incompetência dos homens que, pessimamente, nos governam.  
Um exemplo patente do que aqui afirmo: os reservatórios hídricos do Seridó estão vazios por estiagens constantes, que pode até ser um desígnio de Deus, mas é aliado à falta de planejamento e ausência de vontade política dos nossos próceres nefastos. 
Todos sabem que nossos incompetentes governantes há anos não incrementam a capacidade hídrica do Seridó, nem, tampouco, amenizam os assoreamentos dos nossos grandes açudes, entretanto o nosso ingênuo e crédulo povo seridoense debita integralmente a sua sede à falta d’água caída dos céus. 
Cadê aquela parte que deveria ser realizada pelos governantes? Ou será que esses péssimos políticos que pululam por aí não são também uma séria punição infligida pelos céus? O mau político é uma desgraça, um infortúnio, uma chaga aberta e dolorosa! 
Enquanto os maus políticos estiverem dando as suas cartas marcadas e, consequentemente, fazendo suas trapaças e desvios, não teremos orações junto aos oratórios que resolvam. 
O mau político é uma calamidade imune às orações dos sedentos seridoenses!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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