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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Desculpas sinceras

Natália Klein 

"Desculpa se o que eu disse te ofendeu de alguma forma, não foi minha intenção", disse a uma amiga, enquanto esperávamos a comida chegar, num restaurante.
"É, você realmente me ofendeu. Que bom que você reconhece isso."
Desviei o olhar e devo ter emitido alguma espécie de som provocativo, tipo "humm" ou "ééé".
"Você reconhece que me ofendeu, não reconhece?"
"Bom, eu reconheço que você ficou ofendida."
"Impressionante!", ela exclamou, batendo com as duas mãos sobre a mesa. "Você tá pedindo desculpas e continua achando que está certa."
"Sim, ué."
"Então seu pedido não vale nada! Não vou aceitar!"
"Mas quem foi que disse que um pedido de desculpas precisa ser sincero? Pedir desculpas é um ato de diplomacia, não de sinceridade."
"Você é inacreditável, Natalia."
"Desculpa."
Ela ficou em silêncio, de braços cruzados.
"Desculpa se eu tentei ser a pessoa maior", completei.
Então ela se levantou e foi embora, ofendida.
"Mas eu sou a pessoa maior. Eu sou dez centímetros mais alta que você. Ou mais", tentei me explicar. "Desculpa! Desculpa!", gritei, em vão, sem me dar conta de que o restaurante inteiro estava prestando atenção.
"Tá bom, desculpa pra vocês também", pedi. "Mas eu vou logo avisando que não estou sendo sincera."

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