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domingo, 2 de julho de 2017

Um avalista da pesada


Ciduca Barros

Esta história é do tempo do velho e salvador “papagaio”, aquele empréstimo que a rede bancária fazia por meio de nota promissória, geralmente com dois avalistas, com vencimento para 120 dias. 
Quem foi daquele tempo, seja cliente, seja ex-funcionário de banco, lembra-se bem de que, quando o proponente era pessoa jurídica, deferia-se o papagaio de acordo com o limite cadastral e, quando pessoa física, o valor do empréstimo dependia do saldo médio de depósitos do emitente. 
Tais empréstimos foram a salvação imediata para muita gente.  
Naquele tempo, um sujeito procurou um banco para fazer um papagaio. 
Obedecidas as instruções pertinentes, inclusive quanto aos cadastros dos avalistas citados, o gerente preencheu a nota promissória e explicou: 
– Agora assine aqui, no correr da linha, e depois vá procurar os avalistas e mande-os assinar também.  
E acrescentou:  
– Se você trouxer o título ainda hoje, possivelmente, daqui a três dias, o crédito estará em sua conta. 
O emitente procurou o primeiro avalista, um velho e conhecido agiota da cidade, e pediu o seu aval.  
– Quem é o outro avalista? – perguntou o agiota. 
O emitente explicou quem era. Tratava-se de um sólido e honrado comerciante da região. Recebeu, então, do primeiro avalista, uma orientação estranha:  
– Então me deixe como o segundo avalista. Vá lá e peça para ele assinar que eu assino embaixo.  
Mesmo sem entender a jogada, o emitente assim procedeu. Quando voltou para colher a segunda assinatura, ele entendeu tudo: 
– Preste bem atenção, meu amigo. Os processos em bancos são complicados demais e andam muito devagar.  
E desfechou: 
– Vamos fazer o seguinte negócio: a gente aproveita este papel que já está assinado e avalizado, e eu lhe empresto o dinheiro. É verdade que os meus juros são maiores do que os do banco, mas o dinheiro está aqui ouvindo a história. Você topa? 
A necessidade obrigou o pobre coitado a topar aquela proposta indecente. E ainda saiu satisfeito por levar o dinheiro no bolso.

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