Ciduca Barros
Adalberto Craibeira era um exemplo para aquela sociedade interiorana.
Um homem casado com a mesma mulher, há mais de 50 anos, cheio de filhos e netos, não bebia, nunca fumou e era ligado aos assuntos da sua igreja.
Como cidadão religioso, ajudava o sacerdote na celebração da missa, era membro vicentino (da Irmandade de São Vicente de Paulo) e, nas procissões católicas, participava do grupo que vinha vestido com a opa(*).
Com todas essas boas qualidades, o senhor Craibeira se respaldava nelas para criticar os demais homens daquela localidade.
Falava mal de quem bebia.
Falava mal de quem fumava.
E, principalmente, falava mal de alguns homens que cometiam adultério.
É preciso dizer que as mordazes críticas do seu Adalberto Craibeira incomodavam os demais, principalmente aqueles dados a prevaricações.
E aquela pendenga continuou até uma bela madrugada em que o censor e guardião dos bons costumes foi flagrado saindo, furtivamente, do cabaré da cidade, com cara de travesseiro, camuflado por uma capa, de chapéu atolado na cabeça e usando óculos escuros.
– Epa! Craibeira! O que diabos você está fazendo aqui? – perguntou quem o flagrou.
O pseudovirtuoso Craibeira olhou para os lados, tirou uma caderneta e uma caneta do bolso e desfechou a título de explicação esfarrapada:
– Estou aqui anotando o nome dos homens casados, descarados, desta terra, que vivem aqui no cabaré.
(*) Opa é uma capa sem mangas, com abertura para os braços, usada por membros de irmandades religiosas.
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