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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Para Caby da Costa Lima

Carlos Santos, padre Sátiro e Caby da Costa Lima
"Azougue.com 5″ – A missão
Carlos Santos*

O “camaradinha” Caby Costa Lima procura-me para ingente tarefa. Ciente de que estou sempre com “um monte de coisas para não fazer”, cobra-me o prefácio do seu mais novo livro: “Azougue.com 5″.
Na verdade, até hoje não entendo o porquê do nosso autor não ter sido ungido à Academia. De tiro, claro. Como alvo, que se diga.
Prefaciando-o, logo me constituo seu cúmplice. Sob ameaça, pois.
Caby, tirando todos os defeitos, é gente boa.
Com Azougue.com 5, derivação de site que o sustenta há anos, ele ratifica um trabalho continuado de memorialista, sob um viés incomum. Não conta história, não exuma gente e fatos como os autores clássicos.
Ele reproduz o que ficou congelado no tempo, lá atrás, num trabalho de reconstituição documental fascinante. A gente se reencontra em cada esquina, rua, praça ou naquele carnaval que passou.
Somos flagrados “desabonitados” ou apolíneos. Deparamo-nos com um lugar qualquer do passado e, nessa linha do tempo, somos lágrimas diante da imagem de quem partiu ou rimos de nós mesmos.
Reminiscências e experiências passadas eclodem numa mistura palpável e sistêmica em cada página de sua publicação.
Na era cibernética, em que todo o mundo está em nossas mãos, num Smartphone, ele confronta o virtual com a matéria: papel, gente, coisas e fatos parecem que batem à nossa porta; convidam-nos para entrar.
Seu livro, o 36º, tem robustez própria para servir de calço para porta e fazer volume na estante. Mas ninguém ouse utilizá-lo embaixo daquela perna de mesa que insiste em não se equilibrar no chão.
Brincadeirinha, caríssimo leitor.
O lúdico e a troça também fazem parte dessa obra, como espelho do próprio autor. Seu livro, então, é um pouco ele: feito, pronto, mas mesmo assim inacabado.
É um título para a gente dividir com a família, ser folheado entre amigos ou mandarmos para a Faixa de Gaza. Serve para realimentar antigas antipatias, refazer afetos dispersos ou estimular armistícios.
Com seu jeito despojado e “fora de época”, que caberia como uma luva na série “Do bumba”, Caby encarna um tipo de vida e de indivíduo escasso por aqui. Consegue ser a mesma pessoa há décadas ou séculos, mas com uma espantosa capacidade de adaptação ao moderno.
Paradoxal, paradoxal!
Talvez ele seja mais uma prova de que darwinismo esteja certo. Mantém-se vivo por aprender cotidianamente a se encaixar nas exigências de cada dia, no ecossistema humano. Mas por favor: não o tenham como a evolução da espécie.
O publicitário, o editor de livros, o promotor de eventos musicais, o dirigente e narrador esportivo, o radialista que teima em tratar Roberto Carlos intimamente por “Bebeto Carlos”, parece personagem saído de alguma crônica de Antônio Maria, rabiscada – à madrugada – no balcão de alguma boate carioca nos idos de 50.
Luís Fernando Veríssimo adoraria conhecê-lo. Não tenho dúvidas. Confrontaria-o com o “Analista de Bagé” ou a “Velhinha de Taubaté”. Botaria-o sobre tamancos, como o “Camaradinha de Mossoró”.
Seria o nada “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues, tricolor como ele e eu.
O pai de Alice e Alice, não é nenhuma maravilha, concordo. Contudo é o que temos por enquanto.
Sujeito de muitos livros e de algum cabelo, sua idade é inconfessável – mesmo sob doses cavalares de Campari (argh!). Nada que um exame de carbono 14 e goma na bacia não identifiquem, acredito.
Antes que ele corte meu texto e me demita da condição de prefaciador oficial, sem pagar meus cevados honorários, paro por aqui.
Com licença. Vou virar a página e começar a folhear "Azougue.com 5″.
A missão.

*Escritor mundialmente desconhecido e jornalista nacionalmente ignorado.

Texto originalmente publicado como prefácio do livro “Azougue.com 5″, de Caby da Costa Lima, lançado no dia 13 de março de 2015. A foto que ilustra essa postagem é mais recente, em que eu e Caby emolduramos Padre Sátiro Cavalcanti Dantas. Singela homenagem a quem me tratava com profunda reverência e caudalosos elogios, por “Do suspensórios” ou apenas… “Carlão”. Obrigado, Camaradinha! Vá em paz.

Leia o original clicando AQUI

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