Minha neta e os mastodontes
(Uma história ecologicamente incorreta)
– Você sabe qual é o maior animal que existe atualmente na face da terra, vovô? – perguntou minha netinha.
– O elefante! – ela mesma respondeu.
– Ela não conhece o Câmara dos Deputados do Brasil, com seus ambiciosos integrantes. – pensei comigo.
– Vovô, você sabe qual é o maior animal marinho do mundo? É a baleia – ela não me deixava responder.
– Ela não conhece o Senado Brasileiro, com seus vorazes membros – voltei a matutar.
– Você sabia que todos os animais, até mesmo os grandes e ferozes, cuidam dos seus filhinhos, vovô?
– Meu Deus, santa inocência! Ela nunca ouviu falar na Câmara dos Deputados nem no Senado do Brasil, que não cuidam dos seus filhotes/eleitores – voltei a pensar comigo.
– Você sabe por que eles cuidam direitinho dos seus filhos? Para preservar a sua espécie, vovô!
– Preservar a espécie de políticos? Espécie ou praga? Caramba! Na sua santa inocência, ela desconhece os planos maquiavélicos que o Papai Senado e a Mamãe Câmara Federal já aprontaram para os brasileiros, que parecem não pertencerem a sua espécie.
– Os animais, vovô, mesmo aqueles grandalhões, alimentam e agasalham as suas crias e as protegem dos perigos. Eles não deixam os seus filhinhos passarem sede nem fome!
– Senhor Deus! Ela não sabe mesmo da existência do nosso Congresso Nacional, que está pouco ligando para a sede, a fome, a saúde, a segurança nem a educação do brasileiro.
Minha neta está naquela fase da descoberta dos grandes animais, contemporâneos e pré-históricos. Vendo documentários na televisão e lendo revistinhas sobre mamutes e outros animais, ela está fascinada pelos mastodontes.
– Vovô, você já ouviu falar dos dinossauros? Grandes e poderosos animais do passado?
– Já – respondi sem pensar.
– Quais os que você conhece, vovô?
Daí eu me lembrei de que ela desconhecia o tamanho das garras dos políticos brasileiros, voltei atrás e neguei:
– Não, meu amor. Não os conheço...
Então ela resolveu ministrar uma pequena aula.
– Eu vi em “Animal Planet” que os dinossauros foram os maiores animais que já pisaram na terra. Eles eram gigantescos. Por isso comiam demais, não preservaram a natureza e até destruíram outros animais semelhantes. Sabe o resultado, vovô? Foram extintos.
– Jesus! Comiam demais, gastavam demais, amealhavam dinheiro do erário demais? Não preservavam a natureza, dilapidavam as instituições oficiais? (Petrobrás, Caixa Econômica Federal...) Destruíam outros animais semelhantes, não cuidavam das necessidades básicas do povo? Poderão ser extintos? Será este o destino de todo mastodonte? Será este o futuro do Senado do Brasil e da Câmara Federal?
– Vovô, os animais cuidam tanto dos seus filhotes que, muitas vezes, no período de seca, eles passam fome para alimentá-los.
– Eureca! Agora você acertou, querida! Realmente, a Mamãe Câmara e o Papai Senado aparentam cuidar do povo, quando nos anos de eleições! Mas, depois, volta tudo a mesma pasmaceira – pensei, mas não lhe disse.
– Você sabe o que eu também descobri, vovô? Que todo animal, mesmo aqueles grandes e vorazes, tem predadores.
E ela voltou a perguntar:
– Você sabe o que é um predador, vovô?
Mesmo pensando no Governo Federal, neguei e perguntei:
– Não, querida! O que é um predador?
– É aquele que devora e destrói os outros!
Aí refleti, preocupado:
– Nossa! Que fim triste para Papai Congresso e Mamãe Câmara dos Deputados. Dois gigantes predadores que, segundo minha neta, poderão ser engolidos por um mastodonte devastador, bem maior do que eles – o Executivo Federal, um voraz devorador dos impostos pagos pelos brasileiros.
Nesse momento, sabendo que o nosso Brasil virou uma grande e devastada floresta, intimamente, mas fervorosamente, resolvi fazer uma prece aos céus:
– Senhor! Antes que, através do voto legitimo e consciente, promovamos outra “era do gelo” para a definitiva extinção desses terríveis e destruidores mastodontes, tende piedade dos desafortunados e desassistidos brasileiros, inclusive da minha inocente netinha! Amém!!!
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
Nenhum comentário:
Postar um comentário