Ciduca Barros
Naquela época, a moral, a ética, a honestidade e os bons costumes ainda estavam em voga, mas, por falta de lazer e diversão, as pessoas comentavam demais a vida alheia.
D. Severina Faladeira, como o seu apelido muito bem demonstra, era a pior de todas as fofoqueiras daquela cidade. E o que era pior: vivia enxovalhando a honra das moças do lugar.
Só bastava uma jovem arranjar um namorado para D. Severina começar a desvirtuar a história da moça:
– Nesses dias estará bojuda!
Como o destino sempre arma emboscadas, quando menos se esperava a cidade toda explodiu com uma notícia bombástica: “a filha solteira de Severina Faladeira está grávida”.
Não podia ser diferente.
As mães de todas as virgens (ou presumivelmente virgens) daquela pequena comunidade que foram (ou não) enxovalhadas pela maledicente Severina foram à forra: meteram o malho sem pena nem piedade.
Então algumas senhoras comentavam “o escândalo” da desditada filha de Severina Faladeira, quando uma delas, reportando-se àquele velho e tradicional ditado, comentou:
– Sabe o que foi isso, gente? Foi língua.
E reforçou:
– Foi muita língua!
Ao que uma delas refutou:
– Que língua, mulher! Foi rola mesmo!
E também resolveu reforçar:
– Foi muita rola!
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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