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domingo, 9 de julho de 2017

A lingerie preta


Ciduca Barros

São inúmeros os casais que não se entendem. 
Alguns casamentos, amigações, ajuntamentos, ou quaisquer nomes que se deem, todos nós sabemos que não têm “certificados de estabilidade”.  
Aquele casal não era uma exceção. 
Os dois brigavam com tanta frequência que já viviam, praticamente, sem se falar. 
Entretanto, havia entre eles um detalhe interessante: não sabemos de quem partiu a ideia, mas naqueles dias em que eles não se falavam e ela queria sexo, o convencionado é que vestiria uma camisola preta. 
Explicando melhor: ela vestia a camisola preta e eles, mesmo sem se cumprimentarem, tinham relações sexuais. 
Podemos dizer que era um sexo sem som (se fosse um filme seria do tempo do cinema mudo).  
Por ocasião desta história, eles haviam tido mais uma monumental e retumbante briga. 
Assim, estavam sem comunicação, entre si, há vários dias, quando, num ensolarado sábado, ele resolveu fazer uma farra. 
E foi uma farra com direito a terminar num conhecido motel da sua cidade, onde, acompanhado de uma garota de programa, eles jantaram fartamente. 
Já era quase meia-noite quando ele pediu a conta. 
Mas, antes, ele pediu para embalarem, numa “quentinha”, a sobra do jantar para o seu cachorro.  
Já era madrugada quando ele estava no canil, que ficava nos fundos do quintal, tentando colocar o conteúdo da quentinha na vasilha do cachorro.  
Eu disse tentando, porque aconteceu um fato que o desestabilizou completamente. 
Ele sentiu que havia alguém às suas costas e, cautelosamente, voltou-se. 
Era a sua consorte, com a indefectível camisola preta e regiamente perfumada. 
O susto foi tamanho que a quentinha caiu das suas mãos.  
Por que o susto? Seria medo de que ela visse a logomarca do motel na embalagem da quentinha?  
Ou seria temor por aquela “cobrança sexual”, justamente após um dia de farra com direito a orgia sexual?

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