Ciduca Barros
D. Chiquinha, a finada minha mãe, nasceu em 1912. Da mesma forma que todas as pessoas da sua geração, principalmente aquelas nascidas (assim como ela) nos sertões do Seridó, falava sempre inserindo em suas locuções: provérbios, chavões, adágios e ditos populares. Ela faleceu em 1987, portanto há 30 anos, mas, repentinamente, passei a ouvir a sua voz, nitidamente, em meus ouvidos.
Mediunidade?
Não, como consequência da corrupção dos políticos brasileiros, que vem estarrecendo até os mortos.
Vendo e ouvindo as calamitosas notícias sobre a podridão da corrupção dos políticos brasileiros, uma torrente de lama que a mídia vem mostrando, diariamente, para o Brasil e para o resto do mundo, parece-me ouvir D. Chiquinha sussurrando suas sentenças que tanto ouvi no passado.
Quando um desses implicados em corrupção está dando as suas esfarrapadas e intermináveis explicações, ela murmura baixinho:
“Quem não te conhece, que te compre”.
Os telejornais informavam que alguém suspeito de desonestidade não foi encontrado pela Polícia Federal, com o seu advogado dizendo que, no momento oportuno, seu constituinte se apresentaria. Senti que a finada minha mãe fez um muxoxo e ouvi dela:
“Esse passou sebo nas canelas”.
Vendo o respeitável Doutor Sérgio Moro na televisão, escutei quando ela disse:
“Esse tem sangue no olho”.
Ouvindo a notícia de que a Justiça soltou algum implicado que merecia ficar entre as grades, ela, juntando a sua voz à revolta da população brasileira contra os ministros que abriram as grades, disse:
“São uns bois do cu branco”.
Mais um suspeito de passar a mão no erário, dando mais explicações esfarrapadas à imprensa, a finada minha mãe não perdoou e cochichou:
“Desculpa de amarelo é comer barro”.
Recentemente, vimos um ex-presidente do Brasil dando suas explicações, em juízo, sobre suspeição em algo duvidoso e eu pensei que ela fosse ficar calada. Ledo engano. Ouvi minha mãe dizer com todas as letras, demonstrando até uma certa decepção:
“Quem vê cara não vê coração”.
Há poucos dias, os brasileiros, que pensavam que já tinham visto tudo, ficaram, mais uma vez, boquiabertos com a quantidade de nomes de políticos (de todas as cores e de quase todos os partidos) citados em mais um caso escabroso e imoral de desonestidade. A finada minha mãe não hesitou e me disse:
“São todos farinha do mesmo saco”.
E ainda acrescentou:
“Todo político calça 40”.
Não vou negar. A finada minha mãe também dizia palavrões. Esta semana, enquanto eu assistia às notícias de mais propinas e roubalheiras, desta feita tendo como pivô aqueles dois com nomes de dupla de cantores de moda sertaneja, ela fechou definitiva e mediunicamente o seu conceito sobre a nossa nação e me disse em voz baixa:
“Meu filho! O Brasil virou o cu da mãe Joana!”.
Se eu concordo com as opiniões da finada minha mãe?
Eu sempre fui um filho obediente.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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