O bingo

Ciduca Barros

A cidade inteira sabia que ela era uma mulher infiel ao seu marido. 

E o marido sabia? 

Não posso afirmar, mas se você ler esta história até o final, talvez chegue a uma conclusão. 

O marido, sendo um cara pobre, trabalhava com vendas, viajava sempre e ganhava pouco por isso, gostava quando ela, sem ter nenhum emprego, comprava as coisas para casa. 

– Como você comprou essa radiola nova, Ritinha?

– Tirei no bingo, amor!

O casal, vivia apenas dos parcos ganhos do marido, e ele sabia que a renda da sua esposa era zero. 

Passavam-se os dias, o marido chegava de viagem e encontrava uma geladeira nova e moderna em seu lar.

– Donde você tirou essa geladeira, Ritinha?

– Eu ganhei no bingo, querido!

A casa foi ficando suprida de tudo e quando o marido chegava de suas viagens, o diálogo dos dois era sempre o mesmo:

– E esse fogão novo, mulher?

– Tirei no bingo!

Certo dia, ela foi tomar banho e escorregou no banheiro e, como dizia a finada minha mãe, “caiu de mau jeito”.

Gritou para o marido:

– Socorro, Cornélio! Eu caí!

Seu marido, homem sempre solícito, correu em seu auxílio.

Quando chegou ao banheiro, encontrou a mulher nua, caída no chão, numa posição inusitada: arreganhada (com uma perna no norte e a outra no sul).

De repente, bateu nele uma grande preocupação e, antes de qualquer ajuda, ele exclamou:

– Virgem Maria! Cuidado, mulher! Você pode rasgar a “cartela”! 

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha