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quarta-feira, 15 de maio de 2019

Diarreias mentais - CXLVII


Balzaquianas

O grande escritor francês Honoré de Balzac (1799 – 1850), quando escreveu o seu celebre livro “A Mulher de Trinta Anos” (1832), jamais conjeturou dizer que “as mulheres de mais 30 anos” estavam velhas e sexualmente aposentadas.
Na sua fabulosa obra, Balzac faz uma apologia às mulheres de mais idade que, emocionalmente amadurecidas, podem viver o amor com maior plenitude – em completa oposição à tradicional e predominantemente figura das moças românticas, que nos livros de sua época, tinham não mais do que 20 e poucos anos. 
Júlia D’Àiglemont, a protagonista do livro, é o grande retrato da mulher mal casada que, após anos de infelicidade, encontra seu verdadeiro amor (Carlos Vandenesse) somente após ter completado 30 anos de idade.
Noutra obra, do nosso grande Joaquim Maria Machado de Assis (1839 – 1904), aquele magistral escritor brasileiro, descrevendo uma personagem que, ele a nominava uma idosa, escreveu que “ela trajava um vestido próprio de uma mulher velha”. Detalhe: aquela personagem tinha somente 48 anos de idade.
O livro de Honoré de Balzac ocasionou chamarem, pejorativamente, as mulheres de mais de trinta anos de “balzaquianas”, coroas descartáveis, titias solteironas ou mulheres semi-aposentadas. A geração de Machado de Assis, por sua vez, achava que uma mulher de menos de cinquenta anos era uma idosa avozinha.
Então, mudaram os escritores ou mudaram as mulheres?
Mudaram as mulheres e, na esteira da grande mudança, mudou o gosto masculino por mulheres. 
As mulheres, atualmente, se cuidam nas boas academias de ginásticas e, eventualmente, dão os seus retoques cirúrgicos, além de contarem com bons e milagrosos cosméticos. Resultado positivo: a sua idade tornou-se irrelevante. Tornaram-se “mulheronas” cheias de experiências e beleza pessoal.
Quem lucrou com tudo isto?
Ambos os sexos! 
Elas e nós!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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