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domingo, 6 de janeiro de 2019

Divisão etílica


Ciduca Barros

Quem estudou Química sabe da dificuldade existente na divisão de matéria líquida, mas um antigo e falecido bispo da Diocese de Caicó, um sacerdote naturalmente preparado, não sabia disso. 
Nos primórdios da atuação da Diocese Caicoense, ali trabalhava um cidadão que, posteriormente, se tornou um competente e conhecido mecânico de automóveis da cidade de Caicó. 
Aquele funcionário, assim como grande número de nossos conterrâneos, sempre gostou de ingerir bebidas alcoólicas. 
O bispo da época, conhecedor da preferência etílica do competente funcionário da Diocese, o marcava ombro a ombro. 
Certa vez, o reverendíssimo bispo flagrou o nosso personagem portando, devidamente embrulhada, uma garrafa de bebida e o interpelou:
– Que pacote é esse, senhor Manoel?
Ele, que era beberrão, mas não era mentiroso, respondeu em cima da bucha:
– É uma garrafa de cachaça, Dom Delgado.
O virtuoso prelado, sem se exaltar, lhe fez um elogio seguido de apelo:
– Manoel, a aguardente, além de destruir a sua saúde, pode levá-lo à degradação moral. Lance essa garrafa fora!
E ele pensou lá com seus botões: “e agora Manoel?... Jogar aquela preciosidade no lixo?”.
– Eu não posso fazer isto, não, D. Delgado.
– Por quê, homem de Deus?
E, inteligente como ele sempre foi, achou logo a saída:
– Porque só a metade é minha. A outra metade é de um amigo. 
– Então, para não lhe trazer problema com o seu amigo, derrame a sua metade.
E provando, mais uma vez, o seu raciocínio rápido, desfechou:
– É impossível, meu bispo. A minha metade é a de baixo!

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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