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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O Capitão da amizade e da poesia



Nilson de Brito, caicoense por adoção, para todos tem o mesmo tratamento de “Capitão” e, assim, também ficou sendo chamado. Nascido sabugiense, no dia 26 de agosto de 1929, no sítio Pau d’Arco, o Capitão Nilson de Brito tem várias naturalidades. Em 1929 a terra onde nasceu era território de Serra Negra do Norte, mas já tinha a identidade de São João do Sabugi. Passou por São Fernando, terra de Maria Alice, sua dedicada esposa. Fixou-se em Caicó onde fez rica história de trabalho e amizade.
Nilson de Brito, filho de Inácio Correia de Brito e Maria Celestina de Jesus, foi agricultor e minerador nos primeiros anos de vida. Aliás, começou a trabalhar muito cedo no campo e na exploração de schelita em São João do Sabugi. Não descuidou, contudo, do desejo de aprender a ler e escrever. Por esforço próprio conseguiu não apenas se alfabetizar, mas criar condições de exercer, ainda jovem, a titularidade do Cartório de São Fernando.
Progrediu como tabelião. Foi promovido para o 2º Cartório da Comarca de Caicó. Contou com o apoio técnico do primo, Agostinho de Brito, para as noções básicas do Direito, mas se fez dedicado aprendiz para exercer bem o ofício de escrivão e tabelião, atendendo a todos com peculiar atenção.
Nilson de Brito é um colecionador de amizades. Sempre frequentou as boas conversas da cidade, em todos os segmentos sociais. Sempre solícito e atencioso, mesmo sendo firme em suas convicções políticas e partidárias.
Teve destacada atuação em clubes de serviço de Caicó, notadamente, no Lions Clube. Foi na gestão de Nilson que a instituição conseguiu construir postos de policiamento nas saídas da cidade, além de outras iniciativas relevantes construídas pelo voluntariado por ele coordenado.
Como pai de família, sempre teve muito orgulho dos filhos e filhas, de quem sempre foi amigo e companheiro. Do casal Nilson de Brito e Maria Alice de Brito nasceram: Paula Sonia de Brito, Paulo de Brito, Maria da Paz Brito, Marinilce Brito de Vasconcelos, Maria da Gloria Brito Medeiros da Fonseca, Nilson de Brito Junior e Pedro George de Brito 
O Capitão Nilson de Brito, na maturidade da vida, revelou-se poeta, inclusive, com duas publicações: Lembrança de Caicó em poesia verdadeira (1980), Ano 2000, Brasil 500 (1999). 
Uma das obras do poeta refere-se a história de Caicó. Está na publicada no segundo livro do Capitão. Vale a pena a transcrição:

Dos martírios de um vaqueiro
nasceu a nossa cidade.
Tem muita prosperidade
- prova até no estrangeiro,
pois ganhamos bom dinheiro
vendendo o algodão mocó.
Dentre as fibras, a melhor
lá na fábrica paulistana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Havia um touro encantado
assustando um fazendeiro:
_ "Vou pegar o mandingueiro!",
disse um vaqueiro afamado.
Do cavalo bom de gado
viu o bicho bem maior...
Entraram no mororó,
sumiram na jitirana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Depois que ele se perdeu,
voltando ficou feliz
de erguer a nossa matriz:
idéia que Deus lhe deu.
Mas ele nada temeu
por estar ali tão só.
À margem do Seridó
se valeu da Soberana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Criada em quarenta e oito,
a paróquia com afinco,
já na era trinta e cinco,
tudo no século dezoito.
Manoel Forte - homem afoito -
fundou a vila menor,
foi seu patrono melhor
com vocação mariana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Logo veio o Padre Guerra
e o senador Zé Bernardo.
Foram homens do passado
e orgulho da nossa terra.
Como os bravos de uma guerra,
defenderam o Seridó
- mas nunca estiveram só
nesta luta provinciana.
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Depois do Senador Guerra
o sertão ficou assim:
veio a escola de latim
- enriqueceu nossa terra.
Com a  fé de quem não erra
foi o político maior:
ensinou no Seridó
a linguagem lusitana.
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Dentro da sociologia,
um feito extraordinário:
a Irmandade do Rosário
veio à nossa freguesia.
Aos negros, trouxe alegria
a congregação maior.
Divulgando o Seridó
pela cultura africana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Veio o bispo Dom Delgado
- nosso primeiro pastor -
que o ginásio criou
e que deu bom resultado.
Dom Adelino - estimado.
Dom Manoel, não ficou só.
Dom Heitor, imitou Jó.
Dom Jaime, recebe hosana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

São quatro o número de bustos
que a cidade esculturou:
Dom Delgado e Monsenhor,
Eduardo e Zé Augusto.
Estátua não causa susto
desde a era de Jacó,
pois até o faraó
era gente soberana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Nós temos muitos valores
nos colégios da cidade:
nossa grande mocidade
de alunos e professores.
Dos muitos governadores,
sete são do Seridó:
quatro já dormem no pó,
sobra o trio que hoje se irmana...
Foi do Poço de Santana
que nasceu meu Caicó.

Da relação das pessoas que Caicó estima, seguramente, Nilson de Brito figura em lugar de destaque.

Fernando Antonio Bezerra é escritor, advogado e colaborador do Bar de Ferreirinha.
Este texto foi publicado no livro Caicó de todos nós, de 2018, Editora Sebo Vermelho.

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