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terça-feira, 5 de junho de 2018

Os caminhoneiros

Ivar Hartmann

Economia é como um motor: uma peça estraga, não adianta dar arranque. Tem de consertar. Este episódio da greve dos caminhoneiros, em que uma categoria laboral cruzou os braços e prejudicou a totalidade da engrenagem, trouxe alguns ensinamentos importantes. E resultados: na impossibilidade de colocar militares no governo, como tantos queriam, resta-lhes o consolo de eleger um militar. Difícil será Bolsonaro conseguir apoios que não o prejudiquem. Mas precisa dos horários de televisão destes partidos corruptos que nos governam. Precisa de dinheiro. Como vai conseguir sem ficar parecendo igual? E isso é logo diante. Ao que mais estamos acostumados é a greve de professores. Suas lideranças esperam começar as aulas para entrar em greve em busca de justos melhores salários. Qualquer aluno do elementar sabe que não vão conseguir nada, até porque nem tem previsão orçamentária. Criam os professores confusão nas estruturas domésticas: com quem deixar os filhos. Que farão sem alguém para cuida-los? É uma greve daquelas que prejudica e irrita milhares, sem qualquer ganho para a classe. Prejudicar e irritar. Estão aí dois bons verbos.
Ao contrário das greves do magistério, a dos caminhoneiros trouxe consigo prejuízos milionários para todos os segmentos da economia. Portanto, prejudicou milhões também sob o aspecto econômico. E como. Mas, por incrível que pareça, não irritou a população. Mais do que jornais, hoje as notícias são imediatas através das redes sociais. A internet é o novo tambor da sociedade. Assim como através dela os motoristas se congregaram rapidamente, através dela os brasileiros ficavam sabendo na hora de seus desdobramentos. E só se viu solidariedade. Se a pessoa é prejudicada, não se irrita e é solidária com seu algoz, algo de grave acontece nos subterrâneos do Brasil. Um fato maior que torna menor seu prejuízo ocasional. O Temer se assessora de fracos e corruptos. Que resolveram enviar o Exército para assustar os grevistas sob o pretexto de liberar as pistas. Só que os militares não se prestaram a servir de massa de manobra. Um caminhoneiro, um militar, não importa, são pessoas, com famílias, filhos, amigos, parentes. Entrelaçados entre si. Com amizades entre si. O Exército usar a violência contra seus concidadãos? Mas foi o que idealizou Temer e seus assessores. Não precisa ser vidente. A verdadeira explosão está à frente.


ivar4hartmann@gmail.com

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