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domingo, 24 de junho de 2018

Nosso canivete Corneta


Ciduca Barros

Atualmente, quando vejo a violência disseminada pelo Brasil inteiro, com furtos, roubos e assassinatos em todas esquinas de qualquer cidade do país, com os cidadãos comuns acuados e, para piorar, desarmados, vem à minha memória nosso velho e útil canivete Corneta, que portamos em nossos bolsos de adolescentes durante muito tempo.
A Cutelaria Corneta, pertencente a Indústria e Comércio Corneta S.A., com aço fornecido pela Fabriken Von Weyersberg & Co, de Solinger, na Alemanha, desde 1932, continua fabricando aqueles canivetes.
Com o mesmo estilo das famosas e conhecidas navalhas (que também eram confeccionadas com aço de Solinger), os canivetes da marca Corneta, do nosso tempo, eram mais fáceis de acomodar nos bolsos. Quando fechado sobre o cabo, ele tinha um dispositivo que, quando acionado, abria rapidamente a sua “mortal” lâmina movediça, o que nos tornava mais aptos a enfrentarmos os nossos imaginários inimigos.
Na década de 1950, não me lembro exatamente o ano, ganhei do meu pai o meu primeiro canivete Corneta. Habitualmente, andava sempre com ele no bolso traseiro das calças, com muito mais confiança e sem medo das sombras ameaçadoras e do escuro que pairava nas noites caicoenses daquele tempo, quando a energia elétrica era desligada às 22 horas.
Vocês querem saber se o meu canivete Corneta fez alguma vítima?
Vou frustrá-los, mas afirmo que o meu canivete fez uma vítima! Infelizmente, o meu Canivete Corneta esteve mergulhado em sangue humano.  
A sangue de quem? Do próprio dono!
Certa vez, eu brincando com o meu irmão Otávio, eu com a minha arma branca, com sua afiada lâmina devidamente acionada (em ponto de ataque) e Otávio totalmente desarmado, levei um empurrão e caí por cima do mortífero canivete Corneta. 
O resultado? O meu mortífero Canivete Corneta entrou no meu antebraço esquerdo e eu ganhei três pontos e uma cicatriz que perdura até hoje, como uma marca indelével dos meus dias de adolescente violento.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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