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domingo, 17 de junho de 2018

O fotógrafo


Ciduca Barros

Quem viveu no Interior do Nordeste Brasileiro, na década de 1950, sabe muito bem como tudo ali era difícil. 
A carência era total e as técnicas modernas levavam uma eternidade para chegar à região. 
Porém, como uma forma de atenuar a adversidade, o povo nordestino é exímio em improvisar. 
Esta história é um exemplo vivo daquele tempo, daquela época rica em deficiências e improvisações. 
Um jovem de uma das nossas carentes cidades, naquela dura época, coroando os seus árduos estudos, foi aprovado num determinado concurso. 
Seria desnecessário dizer da sua própria alegria e da dos seus familiares e amigos com a sua vitória. 
 Parabéns! Você está com a vida feita, vai ser funcionário público federal – diziam todos. 
Nomeado para uma cidade distante, daí veio a fase de providenciar a documentação pertinente para a sua posse. 
Logicamente, dentre os papéis exigidos, estavam as imortais fotografias 3x4, tiradas de frente e sem chapéu. 
Foi quando surgiu para ele uma dificuldade maior do que o próprio e árduo concurso: o único fotógrafo da sua carente cidade não sabia tirar fotografias 3x4. 
 Eu só sei tirar foto de corpo inteiro – dizia ele. 
– Caramba! Será que eu vou precisar me deslocar para outra cidade maior, apenas para tirar fotos tamanho 3x4? – perguntou ao fotógrafo, com certa frustração, o futuro servidor público. 
Tive uma excelente ideia! Venha amanhã que eu darei meu jeito – falou, consolando-o, o artista fotográfico.
Entretanto, antes de o rapaz sair, ele lhe fez uma pergunta que, no momento, pareceu irrelevante:
– Qual é a sua altura? 
No dia seguinte, muito cedo estava o jovem, de paletó e gravata, cabelo penteado com Gumex, na casa do competente fotógrafo que, estranhamente, o levou para o quintal. 
Ali estava armado o circo: o criativo fotógrafo havia cavado um buraco no chão, onde o jovem entrou, ficando à vista apenas da cintura para cima (lembra-se por que ele perguntou a sua altura?).
O profissional deitou-se no chão e aquela fotografia 3x4 foi tirada com sucesso, apesar de, misteriosamente, ainda hoje, se observar um pequeno tufo de grama na altura da titela do fotografado.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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