Ciduca Barros
Quem viveu no Interior do Nordeste Brasileiro, na década de 1950, sabe muito bem como tudo ali era difícil.
A carência era total e as técnicas modernas levavam uma eternidade para chegar à região.
Porém, como uma forma de atenuar a adversidade, o povo nordestino é exímio em improvisar.
Esta história é um exemplo vivo daquele tempo, daquela época rica em deficiências e improvisações.
Um jovem de uma das nossas carentes cidades, naquela dura época, coroando os seus árduos estudos, foi aprovado num determinado concurso.
Seria desnecessário dizer da sua própria alegria e da dos seus familiares e amigos com a sua vitória.
– Parabéns! Você está com a vida feita, vai ser funcionário público federal – diziam todos.
Nomeado para uma cidade distante, daí veio a fase de providenciar a documentação pertinente para a sua posse.
Logicamente, dentre os papéis exigidos, estavam as imortais fotografias 3x4, tiradas de frente e sem chapéu.
Foi quando surgiu para ele uma dificuldade maior do que o próprio e árduo concurso: o único fotógrafo da sua carente cidade não sabia tirar fotografias 3x4.
– Eu só sei tirar foto de corpo inteiro – dizia ele.
– Caramba! Será que eu vou precisar me deslocar para outra cidade maior, apenas para tirar fotos tamanho 3x4? – perguntou ao fotógrafo, com certa frustração, o futuro servidor público.
– Tive uma excelente ideia! Venha amanhã que eu darei meu jeito – falou, consolando-o, o artista fotográfico.
Entretanto, antes de o rapaz sair, ele lhe fez uma pergunta que, no momento, pareceu irrelevante:
– Qual é a sua altura?
No dia seguinte, muito cedo estava o jovem, de paletó e gravata, cabelo penteado com Gumex, na casa do competente fotógrafo que, estranhamente, o levou para o quintal.
Ali estava armado o circo: o criativo fotógrafo havia cavado um buraco no chão, onde o jovem entrou, ficando à vista apenas da cintura para cima (lembra-se por que ele perguntou a sua altura?).
O profissional deitou-se no chão e aquela fotografia 3x4 foi tirada com sucesso, apesar de, misteriosamente, ainda hoje, se observar um pequeno tufo de grama na altura da titela do fotografado.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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