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domingo, 3 de junho de 2018

O estranho

Ciduca Barros

Ficávamos papeando na calçada do Banco do Brasil, antes do início do expediente. 
Ali trocávamos as nossas informações e conversávamos sobre tudo: futebol, amores, política, mulheres e, até, metíamos o pau no gerente. 
E foi naquela calçada que aconteceu este fato.
Naquela remota época, na agência de Caicó (RN), estavam quase todos ali numa algazarra total, com assuntos variados e fofocas generalizadas.
Naquele dia a turma discutia acerca de tudo. 
Próximo dali encontrava-se um cidadão engravatado, sozinho, calado, desconhecido de todos, encostado na parede e de pasta na mão, observando atentamente a algazarra.
Um colega notou aquele homem e resolveu chamar a atenção dos demais:
– Vocês já notaram o extremo interesse daquele cara ali em nosso papo?
Alguém, vendo o cara realmente olhando na turma, resolveu fazer uma brincadeira:
– Ele deve estar esperando o Banco abrir. Vamos ver quem consegue descobrir que tipo de operação ele vai fazer?
E os demais entraram no clima da adivinhação.
– Ele tem cara de caixeiro-viajante (será que ainda é chamado assim?) e deverá tomar uma ordem de pagamento – disse alguém.
Eu acho que ele é vendedor de livros e vem oferecer aquelas porcarias pra gente – disse outro.
Ele parece aquele tipo de barbeiro que corta cabelo em domicílio e deve vir descontar o cheque que algum cliente lhe deu – outro falou.
Então um colega, com o intuito de esclarecer aquela dúvida, chamou o cidadão. 
O homem o atendeu gentilmente e deu um bom-dia cordial para todos.
Quem o chamou tentou explicar a sua convocação, mas o homem prontamente o interrompeu:
– Eu ouvi tudo o que vocês falavam.
– E, então, o que o senhor irá fazer quando o Banco abrir? – perguntaram.
– Eu? Eu vim consertar as “merdas” que vocês devem estar fazendo aqui – disse o inspetor.


Nota do autor
Esta história foi narrada no livro “NO BANCO DO BRASIL DE ANTIGAMENTE”, publicado em 2017, que continua sendo vendido através dos pedidos solicitados ao e-mail: ciducabarros@hotmail.com

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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