Caminhoneiros
Deste sempre, o Brasil resolve os seus cruciais problemas mandando a conta para o seu povo. Nossos políticos, com suas brilhantes e inteligentes cabeças coroadas, quando querem solucionar um desequilíbrio no erário público, muitas vezes causado por eles próprios, invariavelmente, quem são os premiados com a “dolorosa”? Os brasileiros!
Vimos, recentemente, mais uma vez, esse filme.
Nossos governantes entenderam que a combalida e espoliada Petrobrás (onde se lê Petrobrás, leia-se o Governo Federal) não deverá ter prejuízos financeiros com a louca e desabalada oscilação do petróleo.
O que fizeram? Resolveram majorar o combustível numa espécie de “gatilho”, que disparava diariamente. Sobrou para quem?
O filme de horror, todos vimos e sentimos na pele.
Os caminhoneiros, os mais prejudicados com os constantes disparos do “gatilho governamental”, pararam as suas vitais atividades e o brasileiro pagou o pato (e ainda vai pagar a conta).
O meu pai era caminhoneiro e, com essa honrosa e laboriosa profissão, criou seus dez filhos (cinco com minha mãe e mais cinco adquiridos pelas estradas do Brasil). Meus irmãos, José e Otávio, também foram caminhoneiros.
Portanto, nasci e fui criado entre caminhões e conheço muito bem as agruras e as dificuldades daquela necessária classe.
A greve dos caminhoneiros foi justa, legal, apropriada e necessária.
Mas, vendo os excessos que foram mostrados através da mídia televisiva, impactado e cheio de dúvidas, faço-me algumas perguntas:
1ª. “Será que o meu velho pai e seus antigos companheiros de estradas, teriam coragem de agredir seus colegas de profissão, arrancando-os violentamente das boleias dos seus próprios caminhões? ”;
2ª. “Será que o meu pai e outros motoristas de caminhão de sua geração, seriam capazes de atirar pedras nos veículos (tão arduamente adquiridos) de terceiros, danificando seu patrimônio, e instrumento de trabalho tão querido”?;
3ª. “Será que Manoel de Neném (meu pai), Mirabeau, Otávio de Barros, Zé Piraca, Benedito Leal, Zé de Neném, Joaquim Poroca, João Meira, Miguel Galvão, Zé Henrique (e seus irmãos Chico e Inácio), Manduca, Lulu, Manoel Leonor, Zé Amâncio (e seus filhos Dionísio e Nivaldo, Neto Tocha, Pedro de Veríssimo e outros caminhoneiros do Seridó de outrora, seriam capazes de matar, a pedradas, um companheiro de estradas? ”.
Sabemos que tudo em nossa nação mudou para pior, mas será que piorou tanto assim, que faz com que profissionais, antes tão amigos e solidários, transformar uma justa greve de sua classe trabalhadora em barbárie e, até, em assassinato?
Para nós, que também torcemos favoravelmente pelo êxito daquele movimento grevista, mesmo sabendo das suas futuras e vultosas consequências, foi muito triste e frustrante vermos caminhões depredados e motoristas agredidos fisicamente.
Finalmente, concluindo com essas minhas “diarreias mentais” com tantas interrogações, peço licença para fazer mais uma:
– Será que aqueles brutais excessos foram mesmo cometidos pelos autênticos, legítimos e verdadeiros motoristas de caminhão, assim como era o meu querido e saudoso pai?
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
Quase com certeza em todas as manifestações tem invariavelmente infiltrações... aí acontecem essas barbáries...
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