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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Diarreias mentais - XCV


A Festa do Boi

Esta história aconteceu numa das piores épocas da política nacional do passado, durante a fase negra do Estado Novo, decretado por Getúlio Vargas, que se estendeu de 1937 a 1945. 
Essa fase é conhecida pelo fato de ter sido ditatorial, isto é, com o Estado Novo, Vargas centralizou todo o poder do Executivo em sua própria pessoa, aproximando-se do modelo nazifascista europeu daquela época.
Os governadores estaduais perderam os seus mandatos e, em seus lugares, foram nomeados os famosos e poderosos Interventores Estaduais. 
Era, realmente, um regime de exceção e a história conta que, em consequência, ocorreram muitas arbitrariedades. 
A Festa do Boi, Boi de Rei ou Boi de Reis, faz parte do Folclore Nordestino, herança dos nossos ancestrais, e sempre foi muito popular em muitas cidades do Ceará.
O Interventor Federal do Ceará era Francisco de Meneses Pimentel. 
Seria desnecessário dizer que, numa época de muitas exceções, aquele interventor era respeitadíssimo e, por que não dizer, temido.
Então, o Interventor Pimentel, utilizando-se das suas prerrogativas de “mandão” estadual, acompanhado do seu secretário Brasil Pinheiro, resolveu visitar um dos municípios do Ceará. 
Hospedou-se na casa do Prefeito Municipal e, depois do jantar, o senhor prefeito pediu licença para se ausentar para cumprir um compromisso social:
– Dr. Pimentel! Eu preciso ir a uma brincadeira!
– Ora! Que brincadeira tão importante é essa, homem? – curioso, indagou o interventor.
– É uma brincadeira de Boi de Rei!
E o interventor, julgando o motivo fútil e jogando a força do seu prestigio, perguntou:
– E você não pode faltar?
– Absolutamente! A minha presença é fundamental!
E fechou a questão:
– Eu sou o boi!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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