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domingo, 31 de dezembro de 2017

O cabaré familiar

Ciduca Barros

Naquela época, quando ainda havia um certo decoro e a moral ainda era respeitada, mormente nas pequenas cidades interioranas como aquela lá do Seridó, uma mulher montou um bar na periferia da cidade.  
No início era apenas um bar, mas com o passar do tempo e a frequência de certos clientes libidinosos o ambiente foi, pouco a pouco, degenerando para algo com alguma suspeição.  
Para começar (ou seria para piorar?), foi construído alguns quartinhos e improvisada uma pista de dança. 
Naturalmente, uma velha radiola passou a reproduzir aqueles velhos e saudosos boleros de Waldick Soriano, Reginaldo Rossi, Nelson Gonçalves e outros cantores menos votados, mas preferíveis em certos meios duvidosos. 
Daí em diante, vocês deduzam o que quiserem.   
Como eu disse no início, o “barzinho” estava localizado na periferia da cidade, num bairro humilde, mas onde residiam pessoas honradas e que, logicamente, passaram a ficar incomodadas com o “ambiente suspeito e barulhento”. 
Até que um dia, os moradores fizeram um abaixo-assinado (os moradores do interior adoram fazer abaixo-assinado) ao mui digno Juiz de Direito da comarca local, manifestando o seu protesto e reivindicando a retirada daquele presumível “lugar de perdição”. 
O juiz foi prestimoso. Intimou a dona do bar para um inquérito inicial. E na preleção que fez para ela disse: 
– Dona Francisca! Os seus vizinhos estão se sentindo incomodados com o seu bar. Segundo eles, além do barulho fora de hora, há uma suspeita de que está virando um puteiro. A senhora tem que se lembrar de que ali é um bairro familiar. 
O que ela retrucou, a título de defesa: 
– Doutor! O meu estabelecimento também é familiar. Lá eu trabalho com a minha família. Sou eu e minhas duas filhas batalhando até de madrugada.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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