Militares no poder
Venho acompanhando a insatisfação do povo brasileiro com a atual política nacional. Eu também estou insatisfeito. Muitos têm externado o seu descontentamento nas redes sociais. Eu também estou descontente com tantos desmandos.
No entanto, algumas pessoas, mormente as mais jovens, numa crise coletiva de diarreia mental, vêm pedindo até a volta dos militares ao poder. Eu não, pois acho que, com todo o desregramento que vemos diariamente, não podemos nos afastar do regime democrático de direito.
Quem acompanhou a política do Brasil, na década de 1960, e eu estava lá, tem conhecimento dos dias terríveis que este país viveu: o Golpe Militar de 64, movimentos clandestinos, prisões em massa, terrorismo da esquerda, porões escuros da direita, desrespeito aos direitos individuais, Congresso Nacional fechado, dirigentes biônicos, AI-5 e o escambau. Foram os tristes e duros anos de chumbo.
Em todos os recantos do Brasil, da pequena vila do interior às metrópoles, ninguém teve tranquilidade durante vários anos. Era um verdadeiro caos, com pessoas dedurando pessoas, acusando-as de comunistas, muitas delas sem sequer saberem o que significava comunismo.
Para exemplificar o que vivemos, conto aqui uma historieta e que retrata fielmente como era conviver naquela época nebulosa e difícil.
Certa tarde, num aprazível barzinho, alguns amigos tomavam chope, quando um deles, em voz alta e para a apreensão dos demais, começou a meter o malho nos militares e na “redentora” revolução.
O seu discurso antirrevolucionário causou uma preocupação danada ao grupo, seguida, naturalmente, de um silêncio sepulcral. O cara achou pouco e ainda se virou para o sujeito mais calado – e ainda mais mudo pelo perigoso sermão – do grupo e desfechou:
– O que você acha da porra desses milicos?
Nessa altura, as demais pessoas do bar, que também estavam desconfortavelmente silentes com o explosivo assunto, ficaram esperando a resposta à pergunta do “amigo da onça”.
– Eu não acho nada, pois eu tinha um amigo que achou de achar e nunca mais acharam ele – foi a sábia resposta do caladinho.
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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