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domingo, 3 de novembro de 2019

Onde o pau quebra?


Ciduca Barros

Em tempos idos, um sitiante, proprietário de uma pequena gleba de terra vizinha a uma grande fazenda do homem mais rico daquele município, viu a metade do seu sítio ser inundada pela represa das águas de um açude construído pelo vizinho.
Puto da vida, não ligou para os benefícios que a abundante água lhe traria, mas, sim, considerou uma afronta do fazendeiro, e moveu uma ação em juízo.
O humilde sitiante, que intimamente nada tinha de humilde, fazia o maior alarde daquela situação, a ponto de, num dia de feira da cidade, na porta do Mercado Público Municipal, bradar para quem quisesse ouvir:
– Vou mostrar pra todo o mundo que ainda vou botar aquele coronel na cadeia! O meu advogado já está cuidando disso.
Entre as pessoas ouvintes, estava um velho e calejado agricultor, também um homem pobre, com as mãos tão calejadas que lembravam até um gengibre, mas cheio de casos para contar e repleto de experiência que a sua dura vida lhe legou, o qual perguntou ao exaltado sitiante:
– Moço, não leve a mal eu me meter no seu sério problema, mas quer um conselho de um homem que já viveu muito?
– Não garanto tomar o seu conselho, mas pode dizer – respondeu o sitiante, todo aborrecido.
E o experiente velhinho mandou o seu conselho:
– Enquanto é tempo, chame o coronel para um acordo.
– Eu? Pra quê? Por quê?
E a sapiência que os anos dotaram aquele cidadão foi demonstrada na sua lapidar resposta:
– Por quê? Porque o pau entorta no cu do rico, mas só quebra no cu do pobre! 

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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