Quem matou Abel?
Nas cidades do interior do Brasil, por ocasião da festa da padroeira, as pessoas costumavam ir ao confessionário com muita contrição e respeito.
Certa feita, há muitas décadas, numa dessas pequenas e humildes cidades, um rapaz, aparentando muita timidez, ajoelhou-se no confessionário e o padre lhe perguntou:
– A quanto tempo você não se confessa, meu filho?
E ouviu:
– Faz muito tempo, senhor padre.
E o padre, para testar o conhecimento cristão do rapaz, perguntou:
– Quem matou Abel?
E ouviu:
– Sei não, seu padre! Eu não moro aqui na cidade, não. Eu moro no sítio e lá essas notícias não chegam não.
O padre ficou irado com aquela ignorância do livro sagrado e desfechou toda a sua indignação, dizendo:
– Então levante-se e saia. Você não merece de receber a comunhão. Retire-se da minha presença e só volte quando for para participar do catecismo.
Daí o caboclo saiu e, muito triste, foi contar o ocorrido a sua mãe.
Sua mãe, mulher simples do povo, foi falar com o vigário.
Chegando à igreja acompanhada do filho, despejou a sua fúria no padre e arrematou dizendo:
– Seu padre! Nós somos pobres e não temos dinheiro pra comprar jornais pra saber das novidades, não!
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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