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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Diarreias mentais - CLXIII


Papel higiênico

Esta história é bastante antiga e me foi contada pela finada minha mãe, quando eu ainda era uma criança.
Quem viveu em pequenas cidades do interior sabe que, naquela áurea época, muito antes da chegada dos utilíssimos supermercados de hoje, as mercearias (bodegas) fiavam. 
As pessoas compravam tivessem dinheiro ou não. 
Com dinheiro, compravam à vista. 
Caso contrário, o dono do estabelecimento anotava numa caderneta de fiados para pagamento no final do mês, ou seja, quando o freguês tivesse a grana.
Naquela casa e naquele tempo, acabou-se o papel higiênico. O filho menor chegou para a sua mãe e desfechou:
– Mãe! Acabou o papel de limpar a bunda!
Primeiramente, a mãe aproveitou o ensejo para, disciplinando o garoto, ensinar-lhe educados modos.
– Filho, o nome não é papel de bunda. O nome certo é papel higiênico!
E ainda fez o seu filhote repetir:
– Como é o nome certo?
– Papel higiênico, mãe!
– Ótimo! Agora vá comprar na mercearia de seu Jacinto.
E o garoto saiu numa desabalada correria.
– Seu Jacinto! Mãe mandou comprar papel higiênico!
O garoto recebeu a encomenda e já ia iniciando nova corrida quando o bodegueiro gritou:
– É pra botar na conta?
Sem parar, o garoto olhou para trás e gritou:
– Não!!! É pra passar na bunda!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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