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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Diarreias mentais - CLXV


A megalomania do coronel

Esta é mais uma história ocorrida lá na Paraíba narrada por Ariano Suassuna (1927-2014), talentoso escritor, dramaturgo e excelente contador de causos. 
Contava ele que, no tempo dos coronéis, lá no município de Taperoá, vivia um deles que, a exemplo dos demais, gostava de grandeza e ostentação.
Certa vez, por ocasião dos festejos juninos, aquele coronel, que era também fazendeiro, mandou um fogueteiro fazer um foguete, que exigiu que fosse o maior foguete do mundo.
O foguete ficou tão grande que, depois de pronto, para chegar na fazenda do coronel teve que ir num carro de boi puxado por dez juntas de bois, quatro na frente e seis apenas para manter a taboca aprumada.
Com a participação de todos os moradores da fazenda, mais alguns vizinhos, com muito trabalho fincaram o danado no terreiro da casa grande. 
À noite, a sanfona começou a tocar, com o pessoal a dançar e a beber, até que chegou o momento de soltar o foguete gigante. O coronel mandou parar a orquestra e perguntou:
– Cadê o fogueteiro?
– Tô aqui, coronel!
E do alto do seu complexo de superioridade, ele determinou:
– Acenda o bicho, mestre fogueteiro!
Com o silêncio reinante na expectativa do inusitado espetáculo pirotécnico, todos ouviram quando o fogueteiro se desculpou:
– Coronel! O senhor me pagou pra fazer e não pra soltar. 
E ainda arrematou:
– O doido aqui é o senhor!
E não houve jeito, nem maneira, nem mais dinheiro, que convencesse o fogueteiro a acender o super-foguete.
E ficou aquela discussão na base de “acenda”, “não acendo”, quando todos escutaram um grito:
– Eu acendo essa porra!
Era um dos vaqueiros da fazenda, mais bêbado do que um gambá, que já foi passando na fogueira e pegando um tição. Em seguida, subiu na escada que estava escorada na taboca e foi logo tacando fogo no rabo do foguete. 
Quando o bicho começou a resfolegar, fagulhar, remexer, soltar faísca em todas as direções, o bêbado se atracou com a taboca e gritou:
– Pra onde é que tu vaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii?
E nunca mais tiveram notícia dele.
Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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