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domingo, 22 de setembro de 2019

Outro moribundo


Ciduca Barros

Comprovando o que eu já afirmei em textos anteriores, a gente do Seridó é engraçada até nos seus últimos momentos. 
O que danado faz com que as pessoas do sertão do Seridó levem, durante toda a sua existência, tudo com bom humor, como se o cotidiano fosse sempre flores, a ponto de saírem-se com ditos espirituosos até nos seus últimos instantes?
Leiam esta outra história.
Ele, assim como muitos da sua geração de seridoenses empedernidos, foi um fazendeiro forte, atuante e empreendedor. 
Tocou as suas terras com muito trabalho e suor.
Tirou da terra os recursos necessários para criar os seus filhos honradamente. 
Os anos se passaram e ele envelheceu. 
Mais anos se passaram e, velho, ele adoeceu para morrer.
No seu leito de morte, minutos antes de partir para sempre, sua esposa entrou no quarto onde ele já agonizava com várias peças de roupa na mão, e lhe perguntou: 
– Joca! Abra os olhos e me diga com qual desses ternos você quer se enterrar.
E, incrivelmente, ele ainda teve forças para lhe obedecer. 
Com muita dificuldade, abriu os olhos e, com a voz muito débil, respondeu:
– Com o de risca de giz!
E sua última vontade foi atendida.

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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