Ciduca Barros
Invariavelmente, sempre que vou à cidade de Caicó visito o cemitério público da cidade onde estão sepultados nossos entes queridos.
Faço disso um ato de piedade cristã, revestido de muitas saudades.
Como um gesto de muita gratidão, também visito as margens dos nossos combalidos rios: Seridó e Barra Nova (que emprestou o seu nome ao populoso bairro caicoense).
Estes rios já tiveram leitos fluviais e hoje, infelizmente, repousam em seus imundos, silenciosos e sepulcrais leitos de morte.
Caicó era banhada por eles, e a nossa geração de moleques (e outras mais) tem imensas, imorredouras e doces lembranças. Mas estes rios que banharam a nossa juventude, estão mortos.
Confessamos, entretanto, que o nosso xodó era o Rio Seridó.
Por quê?
Porque naquelas grandes invernadas do passado, era o Seridó o primeiro rio que chegava sempre primeiro aos nossos banhos, mergulhos, nadadas, folguedos e tibungadas.
O Rio Barra Nova, por ter as suas lentas águas represadas pelo monumental (e atualmente também agonizante) Açude Itans sempre chegava depois, isto quando chegava.
Voltando à agonia dos nossos rios, cito o que dizia o grande escritor João Cabral de Melo Neto (1920–1999), com o seu rio Capiberibe:
“A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro”.
Nós caicoenses, sem consciência e sem decência, desmoralizando os belos versos do poeta pernambucano, na contramão do edílico e da poesia, jogamos lixo, inclusive cachorros (mortos) nos nossos sedentos rios.
O nosso saudoso Rio Seridó, caudalosamente, engolia o vagaroso Rio Barra Nova.
Em seguida, quilômetros à frente, ambos eram atropelados pelo Rio Piranhas.
Somados e misturados às águas da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, formavam uma só compacta massa fluvial e todos viravam mar.
Infelizmente, nossos rios estão exangues e onde víamos suas turbulentas e turvas águas do passado, agora só vemos a miséria, a lama dos esgotos clandestinos e sentimos os fétidos odores da sujeira humana.
Assim como muitos dos moleques que nadaram em suas águas, nossos rios estão mortos.
Paradoxalmente, mortos de sede e literalmente sepultados na imundície.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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