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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Diarreias mentais - CLXII


Morreu? Lascou-se!

Severino e Rita eram formalmente casados e sempre foram muito unidos. 
Eles formavam o que o vulgo chama de casal feliz. 
Mas, infelizmente, num triste dia, Severino adoeceu e faleceu.
Seria desnecessário dizer da tristeza de Rita. 
Ela ficou tão consternada que quase morreu também. 
Vestiu um luto profundo e curtiu a sua dolorosa depressão pós morte, por um longo período. 
Para amenizar as saudades de Severino, Rita mandou fazer, por um competente artesão da sua cidade, uma estátua de madeira do seu falecido marido, de corpo inteiro.
E onde seria o lugar da casa próprio para colocar o seu Severino de madeira? 
No seu quarto, é claro!
Como o tempo cura tudo e como Rita, cheia de libido, já vinha sentindo a falta de um homem em sua cama, certo dia, surgiu um bom candidato a um novo e possivelmente duradouro casamento. 
Então, na noite da primeira visita do candidato à casa da carente viúva, ela chamou à sua empregada doméstica e ordenou:
– Maria faça um cafezinho para a minha visita!
– Patroa! Nós estamos sem gás e o posto de venda já fechou!
Rita, pensou e ordenou:
– Então, mulher, faça o cafezinho no fogão à lenha lá do quintal!
– Também estamos sem lenha, patroa!
Rita, pensou novamente, se ajeitou na cadeira e desfechou:
– Então vá lá no meu quarto e pegue aquela estatueta!
A doméstica, sem entender a peremptória ordem, perguntou:
– E o que eu faço com ela?
E a determinação veio como uma bomba:
– Lasque e faça lenha, mulher!

Ciduca Barros é escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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