Ciduca Barros
Abro esta crônica transcrevendo o que escreveu, recentemente, o ótimo cronista pernambucano Joca de Souza Leão, no seu excelente texto intitulado “Correio”:
“Há quanto tempo você não recebe uma carta pelo correio? Digo carta mesmo (mala direta não vale). Em envelope de carta mesmo (daquele que tem barra verde-amarela e impresso ‘via aérea’, mesmo que o transporte tenha sido terrestre, porque local). Selada com selo mesmo (e não selagem mecânica). E manuscrita em papel de carta mesmo (fininho e pautado). Faz tempo, né?”
Em 25 de janeiro de 1663, era criado os Correios e Telégrafos do Brasil, daí todos os anos, em 25 de janeiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos comemora o Dia do Carteiro. Quando eu comecei a me entender como gente aquela Empresa, uma autarquia federal, já era denominada Departamento de Correios e Telégrafos (DCT). posteriormente, já em 20 de março de 1969, passou a denominação de Empresa Brasileira de Correios (ECT), uma empresa pública de direito privado.
Agora, já se fala em transformar nosso velho correio em Correios do Brasil S.A., uma sociedade anônima de capital fechado. Por quê? Porque querem privatizar nossos Correios do passado e enterrar todas as nossas boas e doces lembranças numa vala comum.
Qual de nós, do litoral ou do sertão, não tem uma boa e doce recordação dos Correios e Telégrafos? Eu tenho!
Qual de nós, caicoenses nas décadas de1950/1960, não esperou com ansiedade a sopa (ônibus) dos Correios que trazia em sua bagagem as revistas em quadrinhos da preferência de muitos e as Revistas do Esporte e a do Rádio da preferência de todos.
Qual de nós, da capital ou do interior, nunca recebeu um telegrama através dos Correios? Eu, por exemplo. Aprovado em concurso do Banco do Brasil S.A., recebi o resultado através de um telegrama que mudou minha vida para sempre.
Qual de nós, jovem ou velho, não se encantou com os vistosos e chamativos selos dos Correios e não enveredou pelo fantástico mundo da Filatelia? Morando em Caicó, décadas atrás, eu e vários amigos da minha idade tivemos o nosso fascínio pelos selos e também tivemos os nossos lúdicos momentos de filatelistas.
Qual de nós, morador de uma grande cidade ou de uma vila, nunca recebeu encomendas através dos Correios? Se você tiver com dúvidas, lembre-se daqueles cursos técnicos profissionalizantes por correspondência.
E as compras através do reembolso postal? Nós, garotos de interior, sem ter acesso às lojas sofisticadas e especializadas em esporte, pedíamos tudo pelo reembolso postal: chuteiras, camisas, caneleiras, sungas (Big), etc. Fazíamos o pedido e ficávamos na ansiedade da chegada.
Qual de nós, residindo num grande centro urbano ou numa pequena cidade, nunca trocou cartas com outras pessoas, residindo no país ou no exterior?
E as cartas de nossas amadas/amados? A propósito de cartas amorosas, cumpre-nos registrar aqui o interessante poema de Fernando Pessoa, intitulado “Cartas de amor são ridículas”. No teor do seu lúcido poema o poeta diz: “Também escrevi em meu tempo cartas de amor. Como as outras, ridículas”.
Eu também escrevi, meu inspirado poeta, mas, pedindo desculpas por discordar, não considero as minhas antigas cartas de amor como ridículas. Não as considero ridículas, nem hoje tampouco as considerei ridículas à época em que as escrevi. Mesmo escrevendo para amores que não deram em nada. Mesmo recebendo cartas de amores que não floresceram, nunca as considerei ridículas.
Quem, assim como eu, que fui um garoto nascido e criado numa cidade do interior do Brasil, não tem uma dívida de gratidão pelo Correio pelas grandes emoções que aquele órgão fazia chegar até nós?
Aquela foi uma áurea fase de nossas vazias vidas, que nos fazia colocar os funcionários dos Correios num alto patamar de importância e nos fazia supor que o humilde carteiro era a pessoa mais importante em nossas vidas.
Nós crescemos! O tempo passou e chegou a modernidade trazendo consigo a ágil informática prenhe de mídias sociais e úteis e velozes aplicativos.
E o nosso romântico Correio? Assim como a rede bancária, sofreu as consequências do modernismo.
E por que o sistema bancário se adequou e os nossos Correios não o fez? Existem culpados? Eu respondo. Existem, sim! Os mesmos governantes que agora acenam com a privatização daquela centenária Instituição, repetindo o que a história já nos mostrou no passado: sucatear para depois, alegando déficit financeiro, vender.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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