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domingo, 24 de março de 2019

Exageros


Ciduca Barros

O sertanejo do Seridó tem outra característica: é exagerado. 
Alguns deles contam suas histórias com tanta ênfase que chegam às raias da mentira.
Essa particularidade do seridoense é mais constante no sofrido homem do campo.
Num dia de feira, dois sitiantes conversavam sobre suas lides rurais. 
O primeiro disse:
– Certa feita, eu cultivei uma vazante lá num açudeco da minha terrinha e tive a maior fartura que um agricultor podia ter.
E detalhou o que colheu:
– Dez caminhões de batata, três de feijão, cinco de jerimum, e uma grande quantidade de melancia e melão, sem contar que era uma tira de terra que não dava nem dois hectares. 
O outro tomou a palavra e, também exageradamente, detalhou a sua desgraça:
– Compadre, agora eu vou lhe contar uma! Na seca de 1958, eu plantei uma lavoura de algodão arbóreo. Passei o verão inteiro aguando com água carregada num galão, da cacimba do porão do meu açude.
E arrematou:
– Pois bem! O capucho de algodão que eu apanhei não deu nem pra fazer um pavio de lamparina! 

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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