Páginas

domingo, 31 de março de 2019

A pelada da lata e o nosso primeiro bullying


Ciduca Barros

Recentemente, escrevi um texto de despedida a amigo de minha geração que nos deixou – Joaquim Martiniano Neto, largamente conhecido como “Madureira”.
Entre outras palavras, postando uma fotografia comprovatória do fato, contei que: 
“Para comprovar que, no Ginásio Diocesano Seridoense, nós vivemos uma epopeia, conto apenas uma historieta. Madureira era membro de uma família onde todos os homens se tornam carecas. Ainda no ginasial, seus ralos cabelos começaram a cair. 
Ainda não haviam criado a expressão bullying, mesmo porque, naquele tempo, nós resolvíamos tudo no tapa. Então, sob seus veementes protestos, todos nós fazíamos gozação com a sua “futura careca”. Até que um belo dia, o pegamos a força para fotografar a sua calvície. Esta fotografia está sendo postada aqui, como uma comprovação história daquele famoso bullying”. 
Como eu disse na ocasião, e repito agora, ainda não conhecíamos a expressão inglesa “bullying”. Talvez conjugássemos o verbo “bulir” que, quando desagradava, saíamos todos na porrada e, mesmo com nariz sangrando, lábio rachado ou hematoma na testa, deixávamos nossas desavenças lá no ginásio.
Ginásio Diocesano Seridoense
Por outro lado, nossas refregas daquela época não deixaram em ninguém traumas, sequelas ou dramas psicológicos para carregarmos até os dias de hoje. Ao contrário, nossos enfretamentos juvenis ajudaram a formar a nossa personalidade e o nosso caráter, pois aqueles conflitos (às vezes, com vias de fato) nos mostraram, muito cedo, as “pauladas” que iriamos levar (e retribuir) nas árduas estradas da vida.
Não contei no texto, mas conto aqui. 
Naquele tempo, no Ginásio Diocesano Seridoense (GDS), em Caicó (RN), em frente à capela de São José, havia um busto de Dom José Delgado (fundador do ginásio). Em torno daquela estátua, formando uma espécie de passarela de cimento, improvisamos um campo de pelada. Era a famosa “Pelada da Lata”.
Por que “pelada da lata”? 
À guisa de bola, pegávamos uma lata de graxa para sapatos (naquela época, nós mesmos engraxávamos nossos calçados), amassávamos até que ela ficasse chata (tipo um disco) e ali estava a pelota. Jogamos ali durante anos, sem obedecer a lotação de atletas (o cara chegava e entrava no time que estava desfalcado). Nunca conseguimos contabilizar o sangue que correu abundantemente ali (inclusive várias cabeças lascadas). O cara chutava, a lata pegava um efeito e ninguém controlava o seu destino.
Era lata na testa. 
Lata nas canelas. 
Lata nos braços.
Lata nos ovos. 
Pensem no atleta que mais sofria? Acertou quem disse o goleiro.
Quem ia sempre para o gol? Aquele com menos habilidade ou, no caso, menos virulento. 
Encerrando, estou postando novamente a fotografia do dia em que “bulimos” com Madureira, afirmando que aquela brincadeira foi durante uma renhida “pelada da lata” e os contendores ainda estavam no “estádio da lata”.
Como estou recebendo muitas mensagens pedindo para identificar os “moleques” presentes naquele dia, aqui vão seus nomes:
Em pé, da esquerda para a direita: José Ney de Araújo (Cabo Ney ou, por sua violência na “pelada da lata: Caterpilar), Manoel Petronilo (+), Rômulo Gurgel Diniz (+), Damião, Carlos Memeu, Alfredo de Medeiros Brito, José de Araújo Vale e Osmar Pinheiro (interno da cidade de Currais Novos).
–Semi-agachados: Joaquim Martiniano Neto (+) (Madureira, a vítima) e Francisco de Assis Barros (Ciduca),
– Agachado: José Alves dos Santos (Zé Boré). 

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

Nenhum comentário:

Postar um comentário