Ciduca Barros
Esta história jamais ocorreria nos tempos atuais. Por quê? Porque os jovens de hoje não são mais tímidos, bem como eliminaram o espaço respeitoso que existia entre os rapazes e as donzelas. Aliás, donzelas – assim como várias outras espécies – estão extintas.
Há muito tempo, num distante município do Seridó, um rapaz de uma fazenda namorava uma moça residente noutro sítio. Em decorrência dos seus afazeres rurais, eles só se viam nos finais de semana.
Num determinado sábado, num ano de muitas chuvas, o rapaz se “perfilou” (como dizia minha mãe), montou num cavalo e foi matar as saudades de sua amada. Após uma tarde de enlevos (com direito apenas a pegar na mão da donzela) e muitas conversas (incluindo pais e irmãos da jovem), chegou a hora da sua volta para casa.
Por coincidência, foi exatamente nesse momento que caiu uma forte e torrencial chuva. Lembram-se daquelas chuvas de outrora? Um toró que perdurou parte da tarde e entrou pela noite. E agora? Como voltar?
– Severino! Você não pode voltar com esse aguaceiro, rapaz. Acredito que até o rio está com muita água – o pai da moça foi o primeiro a reconhecer o empecilho.
– Verdade, Severino! O jeito é você dormir aqui com “nóis” – afiançou a mãe da virgem.
E alguém achou uma saída prática e sem perigos à honra da namorada:
– Você vai dormir no quarto de Joãozinho.
Quem era Joãozinho? Era um garoto, de apenas três anos, daqueles que ainda mijam na rede, irmão da namorada. Assim foi feito. Armaram uma rede, ao lado da de Joãozinho, apagaram as lamparinas e todos foram dormir.
A chuva não parava. O acanhado Severino não aliviou a bexiga antes de se deitar e, com todos já dormindo, ele passou a ficar incomodado com aquela vontade da gota de urinar. E agora, Severino?
Quando ele já quase não aguentava mais, bolou uma estratégia:
– Eu tiro Joãozinho do seu lugar, mijo na rede dele e, em seguida, o reponho no lugar.
Que ideia genial, concordam? Pela manhã, quando a família visse (e sentisse) a urina na rede do garoto, só tinha uma dedução a fazer: Joãozinho mijou na rede.
E assim como bolou, assim ele fez. Tirou o menino da rede, colocou-o gentilmente na rede dele e, silenciosamente, mijou na rede do garoto. Que alívio, meu Deus?
Quando ele voltou para repor o garoto ao seu lugar, quase teve um infarto: o menino havia cagado na rede dele.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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